Jorge Fernando dos Santos

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Amazônia, meu amor!

O governo federal do Brasil já não consegue esconder suas intenções de permitir o desmatamento e a ocupação da floresta Amazônica por fazendeiros e plantadores de cana e soja. No entanto, toda vez que o assunto vem a público, o presidente da República e seus servidores apelam para o sentimento patriótico do nosso povo, alegando que Ongs e governos de outros países estão tentando se apropriar da região. Curioso é que as queimadas continuam e esse mesmo governo se mostra incapaz de evitar que milhões de árvores e de animais amazônicos sejam destruídos em nome da ganância de poucos e da ignorância de muitos.

Em primeiro lugar, ninguém em sã consciência poderia ignorar que a maior parte da floresta fica de fato em território brasileiro. No entanto, os próprios técnicos federais e ecologistas de plantão sabem que até mesmo o governo venezuelano, que tem à frente um visionário populista, tem cuidado melhor do seu quinhão de floresta do que nós. A Amazônia brasileira sempre esteve na mira de latifundiários, criadores de gado, madeireiros, carvoeiros, garimpeiros e empresas internacionais. Não é de hoje, o governo sempre fingiu ignorar esse fato. Mas toda vez que alguém lá fora fala no assunto, ressurge o discurso patriótico dizendo que a Amazônia é nossa e ninguém tasca.

Existem muitas lendas e mitos sobre a floresta. Li uma entrevista recente do zoólogo e compositor Paulo Vanzolini na qual ele dizia que esse negócio de falar que a cura do câncer pode estar na Amazônia é balela, pois não tem nenhum fundamento científico. A chamada biodiversidade da região é pública e notória, mas afirmar que lá estão remédios para todos os males é dar provas de ignorância sobre o assunto. O que existe de concreto na última fronteira da colonização são minérios (inclusive petróleo), água, madeira e terra, muita terra. Todo mundo sabe que boa parte das árvores que são derrubadas clandestinamente é contrabandeada para países cujos governos defendem a preservação do verde e responsabilizam o Brasil pela destruição da floresta.

Claro que o mundo todo está de olho na Amazônia, quem não está? Mas não será com discursos patrióticos e promessas vazias que o governo brasileiro conseguirá evitar sua ocupação ou destruição a curto prazo. Pelo contrário, precisamos enfrentar o problema de frente. Deveriam criar uma “cúpula da Amazônia”, chamando para conversar os governos de países vizinhos que também têm um pedaço da floresta. Em seguida, levar o assunto à OEA e à própria ONU, para que outras nações pudessem de fato se inteirar do problema e esclarecer suas posições sobre o assunto. Afinal, enquanto os gringos criticam o Brasil pelo desleicho com a floresta e o governo brasileiro acusa estrangeiros de crescer o olhos na região, as árvores continuam sendo derrubadas e contrabandeadas só Deus sabe pra onde e por quem.

Há muitos anos, quando eu ainda estava na faculdade, lembro do Ziraldo defender a implantação de fazendas de peixes nos rios da Amazônia, num programa de TV. Afinal, poderíamos alimentar o mundo com essa produção. É incrível que mesmo tento a maior bacia hidrográfica e a maior costa marítima do planeta, o Brasil ainda não tenha se dado conta de que poderia alimentar a China e o Japão, cuja tradição culinária prioriza o pescado. Em vez disso, preferimos desmatar a floresta para plantar pastos e criar gado, num ciclo de pouca duração, já que o solo da floresta é arenoso e pobre em nutrientes.

Em outras palavras, estamos simplesmente matando a floresta e comprometendo o nosso futuro. Se alguém põe o dedo na ferida, lá vem o presidente e sua patriotada, numa atitude estéril que lembra o estilo dos generais que inventaram a Transamazônica. No tocante à floresta, o Brasil precisa atualizar sua estratégia, propondo abrir o jogo e reconhecer sua incapacidade para resolver o problema sem ajuda.

Chega de hipocrisia! O assunto interessa não aos governos e Ongs internacionais, mas a toda a humanidade. Sem essa consciência, a solução tupiniquim seria cortar as árvores, asfaltar a floresta, criar o maior estacionamento do mundo e contratar índios, garimpeiros e madeireiros para trabalhar como flanelinhas.

 

 

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