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Ainda é ‘nós contra eles’

Em 2017, manifestantes contrários à reforma trabalhista atacaram a Esplanada dos Ministérios

Um ano depois da invasão das sedes dos três poderes, o Brasil parece estar longe de virar a página. Enquanto apoiadores do ex-presidente Bolsonaro preparam manifestações para o próximo 8 de janeiro, Lula conclama governadores, ministros e chefes do Legislativo e do Judiciário para um grande ato em Brasília, lembrando a vitória da democracia sobre a tentativa de golpe.

Lula assumiu o governo prometendo unir e pacificar o país. No entanto, nunca deixou de lado o “nós contra eles”, que usou tantas vezes em seus discursos mais inflamados. Pelo contrário, o ex-líder sindical sempre necessitou de paradigmas para fazer política e justificar seus erros. O que pretende, na verdade, é consolidar o apoio político ao seu governo e à sua pessoa.

Fosse de fato o estadista que acredita ser, Lula seguiria o exemplo de Juscelino Kubitschek, que perdoou aqueles que tentaram impedir sua posse e anistiou militares envolvidos em duas tentativas de golpe. Se quisesse mesmo unificar o país, teria dado indulto de Natal ou mesmo anistiado os rebelados de 8 de janeiro. Com isso, certamente dividiria os opositores e enfraqueceria de vez o bolsonarismo.

Amigo da onça

Os “patriotários” que foram detidos em função dos atos antidemocráticos já devem ter percebido que entraram numa canoa furada. Afinal, enquanto acampavam na frente dos quartéis pedindo intervenção militar, seu líder se escondia na Flórida. Nenhuma palavra ele pronunciou em favor das manifestações e tampouco pediu aos seguidores para voltarem pacificamente às suas casas. 

Bolsonaro sequer teve a grandeza de se oferecer ao STF em troca daqueles que, por sua culpa, estão presos e sendo julgados a passo de tartaruga. Com certeza, jamais tentou visitá-los no presídio. Por essas e outras, não é possível que essa gente ainda acredite no “amigo da onça” que os abandonou à própria sorte.

Em maio de 2017, manifestantes de esquerda que protestavam contra a reforma trabalhista de Michel Temer atacaram a Esplanada dos Ministérios com paus, pedras e coquetéis molotov. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, convocou as Forças Armadas para proteger o patrimônio público. Mesmo assim, seis ministérios tiveram suas sedes depredadas e mais de 50 pessoas ficaram feridas. Passada a tormenta, o país retomou a rotina e nunca mais se falou no assunto.

Nos protestos de 8 de janeiro, o governo federal recém-empossado deixou a segurança pública exclusivamente por conta da polícia do Distrito Federal. Mesmo informados pela ABIN sobre o que poderia ocorrer, Lula e seus ministros simplesmente lavaram as mãos. De certa forma, prevaleceu a política do “quanto pior, melhor”.

9 comentários em “Ainda é ‘nós contra eles’”

  1. Roberto Heringer Oliveira

    O “nós contra eles” é o combustível da política despolitizada.

    É a cortina de fumaça para esconder o tema central da Política com “P” maiusculo: ORÇAMENTO

    01 – De onde vem os Recursos.
    A política tributária brasileira é a mais regressiva do planeta, onde os mais pobres e classe média pagam muito mais impostos do que os ricos, ultra ricos e bilionários.

    02 – Para onde vão os Recursos do Orçamento.

    50% do Orçamento é distribuído aos super ricos, com Serviço da Dívida Pública, através das taxas de juros mais altas do planeta!!

  2. política sempre foi, e será, um jogo sujo. e sempre houve um “nós contra eles”. em meados do século passado, os militares contra os civis, no governo collor, os partidários da casa da dinda contra seus desafetos, e por aí vai. por isso, não me assusta o nós contra eles de lula. são posicionamentos políticos que serão esquecidos tão logo o nós ou o eles suma do mapa.

  3. Ronaldo Guimarães

    O Jorge fez uma análise imparcial, como sempre.
    Mas o gado não se conforma em ter levado uma trolha e tece comentários fora de qualquer propósito.

    1. Jose Roberto de Alvarenga

      O indulto de Natal aos condenados pelo 8 de janeiro foi mais um “cavalo arreado” que passou na frente do Lula e ele não soube ou não quis aproveitar. Será que foi pressionado pela ala radical da esquerda a não dar o indulto. O fato é que foi uma oportunidade perdida para melhorar o ” clima” político e distensionar o pais.
      Infelizmente prevaleceu a mediocridade e o ” nós contra eles”
      Como disse o Leirdella , esse ódio só passará quando Lula e Bolsonaro saírem de cena ! Oxalá!

  4. Walter Soares oliveira

    Os denominados por você com patriotarios são os mártires da história, estão lutando contra a tirania, a opressão, pagando o preço de uma batalha, ao contrário dessa imprensa e mídia totalmente fajuta, desacreditada, venal e tudo quanto outros adjetivos dessa natureza.
    Um líder não pode entregar-se, não pode desanimar, apesar das traições e tantas outras dificuldades. Pensava que você fosse menos míope para enxergar as motivações e fundamentos da retirada dele do país. Covarde, pode ter certeza ele não é, como são a grande maioria dos jornalistas subjugados pelo impostor, convenientes amigos do rei e que se phoda Brasil

  5. Augusto Carlos Duarte

    Bela análise.
    Eu só permito-me questionar se o atual ocupante da atual cadeira presidencial (não duvido que seja trocada, em breve, por uma no valor de R$ 300.000,00) tem a mínima visão de estadista, ou segue sendo o líder sindical, com a “política” ampliada do “nós (metalúrgicos) x eles (patrões)”.
    Quanto ao ex-presidente visitar os presos políticos de 8 de janeiro, ou oferecer-se para trocar a liberdade dele pelas deles, nunca o ministro “polivalente” do STF autorizaria, pois era levantar a bola para Bolsonaro fazer o “ponto do set”. Até mesmo o Legislativo tem que pedir autorização para fazer o que é função dele; imagine alguém hoje sem foro privilegiado!
    O 8 de janeiro será marcado por mais uma narrativa, que um número cada vez menor de militantes precisará sustentar (duvido que até eles próprios acreditem nelas). É como no sempre citado romance “1984”, de George Orwell: existe a verdade do dia.
    Vejamos qual será a de 8 de janeiro.

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