Jorge Fernando dos Santos

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Democracia acima de tudo

Além do presidente da Câmara, 15 governadores faltaram ao ato convocado por Lula (Ag. Brasil)

Num mundo no qual todo mundo tem opinião sobre tudo, e onde ter opinião torna-se cada vez mais perigoso, declaro publicamente não ter opinião sobre nada. Àqueles que me condenarem por parecer uma metamorfose ambulante, direi apenas que esse é o espírito da nossa democracia.

Não direi, por exemplo, que a ausência de 15 governadores e do presidente da Câmara, Arthur Lira, ao ato político realizado ontem no Congresso foi uma prova de que o novo governo Lula não tem tanto apoio quanto o mandatário quis demonstrar.

Tampouco serei louco em afirmar que a tentativa de golpe do ano passado só foi possível devido à omissão das autoridades constituídas, que por diferentes motivos e total falta de razão ignoraram os alertas da ABIN – como se apostassem no “quanto pior melhor”.

Não direi que um juiz ameaçado de morte não deveria julgar aqueles que o ameaçaram, o que pode ser interpretado como vingança em vez de justiça. Também não ouso cobrar o nome dos mandantes, já que no Brasil eles são indizíveis (vide os casos PC Farias, Celso Daniel e Marielle Franco).

Público e notório

Sendo público e notório que o principal encorajador dos “atos golpistas” foi um certo ex-presidente derrotado nas urnas, não desafiarei os magistrados a mandar detê-lo para averiguações. Até porque, no Brasil, ex-presidentes raramente são presos e, quando são, têm os processos anulados e acabam reeleitos.

Tampouco ousarei pensar que o julgamento dos manifestantes de 8 de janeiro se arrasta há mais de um ano porque os magistrados que deveriam cuidar do assunto gastam tempo demais concedendo entrevistas, como se tentassem justificar a prisão dos suspeitos.

Não quero e não devo lembrar manifestações de esquerda ocorridas em Brasília, em 2014 e 2017, que resultaram em cenas de vandalismo iguais ou piores que as do ano passado – além de dezenas de feridos e nenhuma condenação por terrorismo.

Também não comentarei a declaração do presidente da República, ao justificar o motivo de não anistiar os tais golpistas. Alguém deveria lembrá-lo que se os ditadores militares pensassem como ele, muitos de seus companheiros teriam morrido na cadeia.

Finalmente, sem ter opinado sobre os últimos acontecimentos, peço a quem discordar que se manifeste no blog de forma educada. Afinal de contas, numa democracia que se pretende plena e verdadeira, todo mundo tem o direito de ter opinião – mesmo que não queira manifestá-la publicamente.

8 comentários em “Democracia acima de tudo”

  1. As autoridades constituídas no nosso Brasil falham sempre em proteger a justiça e aos cidadãos. Nossa justiça é questionável, a impunidade é um problema grave, onde muitas vezes somos incapazes (ou não queremos?) punir aqueles que realmente cometem o crime.
    Ou seja, democracia imperfeita, capenga, e mal gerida!

    1. Ótimo na forma e nos conteúdos! Parabéns, Jorge!
      Cheguei a escrever uma resposta a um dos outros comentários… Porém, mortes e sangues nos “eventos” com participações de petistas, são sempre acidentes ou invenções ou simples fatalidades. E, também, fazer vista grossa, para a mobilização de aloprados durante vários dias, sendo petista, faz parte do corriqueiro e inabalável “eu nun sabia, cumpanheru”.
      Essa pulitizada turma é pior que os vândalos (quando oponentes). E a prevaricação só não acontecerá com os aloprados populares. Os verdadeiros responsáveis, brevemente, estarão como cumpanherus nos mesmos palanques lulistas.

  2. Jose Roberto de Alvarenga

    Tanto a direita quanto a esquerda tem um passivo de contas a prestar sobre violência e autoritarismo. Passamos perto de um golpe há pouco tempo. Não gosto nem de pensar em como estaríamos hoje se os golpistas tivessem tomado o poder.

  3. Uma no cravo outra na ferradura… um texto que ironicamente trabalha com o morde e sopra, mas achar que atos da esquerda em 2014 foram até piores do que o oito de janeiro, aí passou da conta, compadre… um abraço.
    do seu admirador, caio

    1. Augusto Carlos Duarte

      Não direi li a crônica e, como de praxe, achei-a ótima.
      Não direi também que os fatos sobre os quais o autor não opinou escancaram um “universo paralelo” sem paralelos na História do Brasil.
      Afinal, trocou-se o “penso, logo existo”, pelo “pense (diferentemente de nós) e deixará de existir”. Pelo menos, na seara virtual. Até a presente data.
      Era certo “líder” soviético que “editava” fotos, nas quais desafetos eram suprimidos?
      Coisa de democracias, obviamente.

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