Jorge Fernando dos Santos

A herança de Bush

A administração Bush se despede da Casa Branca sem deixar saudades. O governo de George W. Bush foi o mais desastrado da história norte-americana e deixa um saldo negativo sem precedentes. Não bastasse a estupidez da guerra contra o Iraque e o Afeganistão, reação impensada aos ataques de 11 de setembro de 2001, atribuídos à Al-Qaeda, esse governo quebrou a economia dos Estados Unidos e de vários outros países.

Não bastasse isso, nos seus últimos dias de poder, Bush permitiu a ofensiva israelense na Faixa de Gaza. Sob o pretexto de destruir o grupo radical Hamas, o que se vê ali é o assassinato de civis palestinos sob protestos das Nações Unidas e de qualquer pessoa com um mínimo de senso humanitário. A Casa Branca faz um jogo sujo, apoiando ações de genocídio denunciadas até mesmo pela imprensa israelense.

Várias reportagens e documentários foram feitos sobre o governo Bush, denunciando seu envolvimento com a indústria bélica, os magnatas do petróleo e membros da família de Osama Bin Laden. No entanto, nada foi feito para frear suas ações no governo que, segundo o conteúdo de tais denúncias, agiu na maior parte do tempo a serviço de interesses privados. A própria guerra contra o terrorismo, chamada por Bush de “cruzada” antiterror, enriqueceu muita gente e ajudou a endividar a América.

A administração Bush foi de um cinismo sem precedentes nos últimos tempos, a começar pela história pessoal do presidente, que sempre se beneficiou do fato de ser filho do todo-poderoso George H. W. Bush. Ex-diretor da CIA, ex-vice-presidente e ex-presidente dos EUA, Bush pai é um dos homens mais ricos e mais bem informados do mundo sobre política e economia global. Suas ligações com os poderosos da Arábia Saudita, entre eles um irmão de Bin Laden, são públicas e notórias.

A invasão do Iraque foi feita sob a falsa premissa de que o ex-aliado Saddan Hussein tinha em seu poder armas químicas de destruição em massa. No entanto, isso jamais foi comprovado. Se tais armas existiram, até hoje não foram encontradas. Ou talvez tenham sido fornecidas pelos EUA durante a administração Reagan, no período da guerra Irã-Iraque, quando Saddan combatia os xiítas que tanto ameaçavam os interesses da Casa Branca naquela região do planeta. Parte desse armamento teria sido usada pelos iraquianos na sua tentativa de exterminar os curdos.

As relações entre Saddan e a Casa Branca se tornaram insustentáveis depois do episódio Irã-contras da Nicarágua, quando armas que seriam fornecidas ao Iraque foram desviadas para o Irã. O lucro dessa operação teria sido revertido em favor das forças conservadoras nicaragüenses na sua luta contra os sandinistas, apoiados por Cuba. Por outro lado, os EUA jamais comprovoram a tese de que Saddan e Bin Laden eram aliados.

Falência de empresas, desemprego, guerras e aumento da dívida pública constituem a herança de George W. Bush para seu sucessor, o democrata Barak Obama. Este tem sérios desafios pela frente e assume o poder coroado pela esperança não só dos norte-americanos, mas de todo o mundo que assistiu perplexo às trapalhadas do último governo republicano. Contrariando o ditado racista, caberá a um negro de origem humilde e muçulmana limpar a sujeira deixada pelo branco rico, de formação supostamente cristã, pelo bem do seu país e da civilização ocidental.

* Publicado no Diário do Comércio, em 20 de janeiro de 2009, dia da posse de Barak Obama na presidência dos EUA

 

 

2 comentários em “A herança de Bush”

  1. Olá, Jorge, você fez um breve e exato balanço do que foi este “nebuloso” período da história norte-americana. Bush deve ser visto como um pirata a favor dos setores conservadores, dos que teimam em dominar e controlar o Planeta. Mas qualquer análise a respeito de personalidades
    desse tipo, republicanas, direitistas, conservadoras, autoritárias, o que tudo dá no mesmo, deve ser entendida no contexto neoliberal, pós-moderno e globalizador. Por seus princípios e desprincípios, a pós-modernidade e, só ela, é capaz de produzir essas distorções, verdadeiras monstruosidades em termos de personalidades e gangsteres executivos. A pós-modernidade carrega o germe de uma contradição mortal: despreza toda estabilidade e todo sinal de humanismo, mas não pode sobreviver sem os fundamentos dados pela metafísica e sem os fundamentos humanistas. Contra toda a regra e princípios, contra todos os fundamentalismos, ele, o pós-modernismo e seus piores frutos, são fudamentalistas até o cerne. É isso. Busch, ou
    bruxa, ou Buxa, pois tudo seria o memso, filhos da mesma matriz sem olhos e sem coração, que muitos adoram sem saber realmente o que representa. A pós-modernidade com seu llumina sedução, sob a égide do mercado. O Senhor e o servo, ambos cegos, surdos e mudos. Valeu pelo artigo. Um grande abraço, João Evangelista

  2. Bush não é fruto de si mesmo. Foi uma, equivocada e amedrontada, resposta americana (em seu segundo mandato) ao terrorismo. Espero que Obama não seja salvador da pátria – ele não conseguiria -, mas que se constitua, de fato, numa mudança de pensamento americano acerca de como atuar num mundo cada vez mais complexo e plural.

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