Jorge Fernando dos Santos

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O plano por trás do pano

Quem pensa que a crise econômica norte-americana é fruto da incompetência do governo Bush pode estar redondamente enganado. O evento, que lembra as crises que assolaram a América nas décadas de 1910 e 1930, pode ter sido arquitetado por cérebros iluminados e sinistros que controlam das sombras os destinos da humanidade. Quem duvida deve procurar na Internet o documentário apócrifo Zeitgeist, de quase duas horas de duração. Religião, economia e poder são os temas abordados com vistas a denunciar a grande conspiração dos poderosos.

Embora possa conter exageros, Zeitgeist – expressão alemã que significa “espírito do tempo” – serve para sacudir a poeira das mentes contemporâneas, tão sufocadas pelo excesso de informações confusas e nem sempre confiáveis que assola os meios de comunicação. De qualquer maneira, há que se refletir sobre o atual momento econômico e seus possíveis reflexos nas políticas mundiais.

A era Bush pode ser considerada um dos períodos mais conturbados da história norte-americana. Empossado sob a suspeita de fraude nas eleições que derrotaram os democratas, o presidente republicano assumiu o poder de fato depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Os supostos terroristas que puseram abaixo as torres gêmeas de Nova York e parte do Pentágono, em Washington, fizeram a nação tremer e temer pelo pior.

Bush se travestiu de grande líder, porta-voz das liberdades democráticas, e não demorou a entrar em ação. Sem nenhuma prova contra seus antigos aliados, a Casa Branca liderou as forças internacionais da coalizão e ordenou a invasão do Afeganistão e do Iraque, iniciando uma guerra arquitetada para durar. A exemplo do Vietnã, as duas frentes foram criadas sob falsas premissas.

Políticos, cineastas, escritores e analistas políticos lúcidos já denunciaram o teatro de absurdo da era Bush. No entanto, em meio a tantas desinformações, dezenas de perguntas permanecem sem respostas.

Quem sabe explicar a implosão dos prédios do Word Trade Center logo após o impacto dos aviões? Que história foi aquela do passaporte de um suposto terrorista ter aparecido nos escombros das duas torres, dias depois do atentado? Afinal, onde anda Osama Bin Laden e que história é essa de que a família Bush tem negócios com sua família? Todo mundo sabe, por exemplo, que os EUA armaram a Al-Qaeda para usar seus combatentes contra os soviéticos no Afeganistão. E foi justamente essa guerra que ajudou a derrubar o império do Leste como um castelo de cartas.

O que não faltam são controvérsias. Mas isso não traz nada de novo, pois Hitler foi tolerado pelos EUA e seus aliados até o momento em que invadiu a França. Afinal, os nazistas impediam que Stalin marchasse sobre a Europa e anexasse os países do Oeste ao império soviético. Para justificar a guerra e a ditadura, Hitler mandou incendiar seu parlamento e acusou comunistas e judeus.

Consta que o avô de Bush ganhou muito dinheiro negociando armas com a Alemanha. Da mesma forma, a indústria bélica norte-americana forneceu armas aos Vietcongs e o governo Reagan ajudou os iranianos em plena guerra contra o Iraque. Só que, naquele momento, Saddan Hussein é que era o aliado dos EUA, que temiam o radicalismo dos ayatolás e viam nele um instrumento de resistência contra os fundamentalistas islâmicos. O episódio dos contras da Nicarágua resultou na punição de um oficial norte-americano e, desde então, Saddan perdeu a confiança em Washington.

O crack da bolsa de Nova York, em 1929, gerou a grande depressão, contaminou os mercados internacionais e desembocou na Segunda Guerra Mundial. Desde o primeiro momento, o presidente Roosevelt quis declarar guerra ao eixo, mas precisava de um pretexto para conseguir a aprovação do Congresso. Foi só cortar o fornecimento de óleo para o Japão para que os militares nipônicos fizessem o seu jogo. Depois do ataque a Pearl Harbor, os ianques foram à forra. Entraram na guerra como devedores e saíram como credores, com a economia nacional plenamente revigorada.

Exemplos não faltam na história. Sobretudo na história recente, escrita pelos interesses do imperialismo norte-americano. Portanto, é difícil supor que os últimos acontecimentos econômicos que tanto têm abalado o mundo resultem da mera incompetência da Casa Branca ou dos capitalistas que a sustentam. Até porque, essa gente tem competência e maquiavelismo de sobra.

Por trás do pano das aparências existe um plano e alguns poucos gênios do mal certamente já estão faturando bilhões, planejando ampliar o controle das finanças nacionais e internacionais, pulverizando possíveis competidores com pequenas manobras no tabuleiro. Num mundo globalizado, as conseqüências serão imprevisíveis. Não estão em jogo apenas as pequenas economias perdidas nas bolsas de valores, mas também o destino de uma civilização sustentada pelo lucro das guerras e pelos interesses das grandes corporações.

  

5 comentários em “O plano por trás do pano”

  1. Jorge, achei a análise muito pertinente e coerente. É incrível como a história evidencia as reais movimentações e os interesses norte-americanos por trás de grandes marcos da civilização. Agora nos resta esperar até que seja possível fazer uma análise mais aprofundada dos motivos que levaram a essa crise, já que, no olho do furacão, a única coisa que temos condições de avaliar no momento são as nossas perdas e os impactos que sofreremos daqui em diante. Somente quando virarmos história poderemos compreender esse momento.

  2. Excelente o seu artigo “O plano por trás do plano”. Pergunto: você autorizaria a repulbicação, com os devidos créditos, no portal Dom Total, da Escola Superior Dom Helder Câmara (sem fins lucrativos)? No aguardo mando-lhe um abraço e meus parabéns. Marco Lacerda.

  3. “Num mundo globalizado, as conseqüências serão imprevisíveis. Não estão em jogo apenas as pequenas economias perdidas nas bolsas de valores, mas também o destino de uma civilização sustentada pelo lucro das guerras e pelos interesses das grandes corporações”. Muito bom, mermão! – Leiradella

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