
A maioria dos brasileiros sabe quem foi Noel Rosa ou, mesmo sem saber, já ouviu algum dos seus sambas. O que pouca gente sabe, no entanto, é que o Poeta da Vila morou em Belo Horizonte nos primeiros meses de 1935. Ou seja, há exatamente 90 anos. Recém-casado com a sergipana Lindaura Neves, ele veio para a cidade em lua de mel e também para se tratar da tuberculose pulmonar que ceifaria sua vida dali a dois anos.
Esse é o tema do meu novo livro (Cordiais saudações, Noel Rosa), que está sendo publicado pela editora Patuá. O lançamento será num sábado (05/4), a partir das 11h, no restaurante Esquina Santê (Rua Silvianópolis, 464, Santa Tereza), com a participação especial do grupo vocal OverVozes sob a regência do maestro e violonista Hudson Brasil.
O tema em questão sempre me interessou. Tanto que inicialmente o abordei em forma de musical, durante as celebrações do centenário de nascimento do Poeta da Vila, em 2010. Como o texto permaneceu inédito devido aos alto-custos de produção, resolvi no ano passado adaptar a história para uma novela que mistura ficção, realidade e poesia.
Sempre me intrigou não haver quase nenhum registro da presença de Noel em BH. Tudo bem que ele permaneceu aqui somente por quatro meses (entre janeiro e abril de 1935, segundo seus biógrafos João Máximo e Carlos Didier). No entanto, em vez de ser um simples entreato, a presença do compositor carioca na capital mineira foi movimentada e, acima de tudo, criativa.
Encontro com Drummond
Em BH, Noel compôs 12 músicas, além de uma carta em forma de versos endereçada ao médico carioca Edgar Mello (filho do obstetra que o trouxe ao mundo e quebrou-lhe o queixo com o uso do fórceps). Décadas depois, João Nogueira transformaria a missiva em samba, numa parceria póstuma com o Poeta da Vila.
Em sua estada na “Cidade Jardim”, Noel Rosa e a esposa se hospedaram na casa dos tios dele, no bairro Floresta. Consta que o sambista também ficou alguns dias internado na enfermaria da Santa Casa de Misericórdia, sob os cuidados dos tisiologistas Paulo de Souza Campos e Mário Vaz de Melo.
Em suas escapadas noturnas, o jovem compositor frequentou os cafés da Rua da Bahia, o Bar do Ponto e a Lagoinha boêmia, com direito a idas ao dancing Montanhez. Em BH ele conheceu o radialista José de Oliveira Vaz, os músicos Delê Andrade e Rômulo Paes, além de reencontrar seu parceiro Hervé Cordovil. Também participou de um concurso de músicas carnavalescas promovido pelo jornal Folha de Minas, classificando-se em quinto lugar.
Mas como teriam sido suas noitadas e sobre quais assuntos Noel conversava com os amigos mineiros? Em busca de repostas, dei asas à imaginação. Concebi inclusive um encontro nada improvável entre ele e Carlos Drummond de Andrade. Vale lembrar que sua avó Ritinha se gabava de ser descendente do Barão de Drummond, fundador de Vila Isabel. Se assim foi, podemos deduzir que os dois poetas eram parentes distantes.
Quem quiser saber mais sobre o tema, que aguarde a publicação do livro. Por ora, anotem na agenda a data e o local do lançamento. Terei imenso prazer em reencontrar os amigos na manhã-tarde de autógrafos a ser abrilhantada com um seleto repertório de Noel pelo OverVozes, grupo vocal que ajudei a criar dez anos atrás.
Que bom saber mais sobre o meu/nosso querido Noel.
Seu livro, como sempre, deve estar supimpa, Jorge!
Não vejo a hora de apresentar “O menino Leo e o Poeta Noel” ao “Cordiais saudações, Noel Rosa”.
Parabéns! Abraços noelinos!
Eu devorei a biografia de Noel, escrita pelos autores que cita no texto, João Máximo e Carlos Didier. Ansioso agora para viajar na realidade e ficção destra obra.
O talento do Jorge , escrevendo sobre o talento do Noel, nas suas andanças pela nossa querida BH, tem tudo para aguçar a nossa curiosidade !
Tema pungente: o poeta na cidade das montanhas.
Vou conferir meu amigo, abraço
NOEL ROSA atual e fora da curva. Um trabalho literário e de grande valor cultural.
Tem a cara de que vai ser um baita livro!
Belo Artigo Jorge.As músicas de Noel Ros são contemporâneas.Gosto muito.obrigado por este artigo fantástico.