Se as palavras fossem do ex-presidente Jair Bolsonaro, o mundo, a imprensa e as ONGs internacionais certamente cairiam sobre ele. No entanto, isso não diminui a importância do que disse Lula nessa terça-feira (22/8) na África do Sul: “Não podemos aceitar um neocolonialismo verde que impõe barreiras comerciais e medidas discriminatórias, sob pretexto de proteger o meio ambiente”.
Em seu primeiro discurso para a cúpula do Brics, o presidente petista brilhou ao apontar o controle que países ricos tentam exercer sobre a economia das nações em desenvolvimento. Sua mensagem foi interpretada como um recado direto à União Europeia, que tem criado leis visando sobretaxar produtos de países que não cumprirem suas determinações ambientais. Ele prometeu que o Brics “trabalhará para promover um comércio global mais justo, previsível, equitativo”.
Ninguém duvida que seja necessário proteger o meio ambiente, mas não se pode sacrificar o desenvolvimento de povos que lutam contra a miséria e o subdesenvolvimento, seja na África ou na América do Sul. As palavras de Lula servem também para os Estados Unidos, que veem no agronegócio brasileiro uma grande ameaça aos interesses de seus produtores rurais.
Água virou commodity
O Brasil vive um paradoxo que só encontra explicações sob a lógica do neocolonialismo citado por Lula. A Amazônia brasileira, que corresponde a mais de 1/4 do território nacional, concentra a população mais pobre do país, enquanto seu subsolo guarda riquezas incalculáveis. Se pelo menos os índios pudessem usufruir de tais recursos em suas reservas, a realidade com certeza seria outra.
Depois que o elemento água virou commodity na bolsa de Nova York, vale lembrar que o Rio Amazonas sozinho tem 20% da vasão de água doce de todo o mundo. Enquanto isso, a região de Carajás guarda intocável a maior reserva do melhor diamante do planeta. Tudo isso sem falar em grafeno, nióbio, ouro e petróleo. Tolice acreditar que as grandes nações não estão de olho nisso.
A boa notícia da semana é que a Advocacia-Geral da União deu parecer favorável à exploração petrolífera em alto mar, perto da bacia da foz do Amazonas. No seu entendimento, a Avaliação Ambiental de Área Sedimentar não pode impedir o licenciamento da exploração e produção de petróleo e gás natural. Segundo a Petrobras e o Ministério de Minas e Energia, a área já tinha sido licenciada em 2013, não fazendo sentido a exigência de uma nova avaliação.
Claro que deverão ser tomados todos os cuidados para preservar o bioma naquela área, mas o impedimento do Ibama à simples prospecção de petróleo por uma empresa nacional qualificada atenta contra a economia do país. Como tem salientado o ex-ministro Aldo Rebelo, autor do Código Florestal Brasileiro, o governo já não governa a Amazônia. Boa parte da floresta é dominada por traficantes, contrabandistas e ONGs internacionais, a maioria a serviço de governos estrangeiros.
Parabéns, Jorge! Reconhecer um acerto do Lula é um crédito para sua honestidade intelectual.
Um texto para se pensar. Até onde o planeta suporta intervenções em seu meio? O ecossistema pede socorro.
É difícil. Creio que este é um dos maiores ‘quebra cabeças’ do planeta. Exploração de recursos sem destruir o meio ambiente, flora, fauna, reservas indígenas etc.
Salve Jorge! boa reflexão
Parabéns Jorge pela lúcida e equilibrada análise deste contexto. Abs, Walter Oliveira
Boa matéria para refletir em quem acreditar. Uma pergunta à sua pergunta: por onde anda Marina Silva? Ela nunca foi de silenciar-se.
Nunca acreditei nela, sobretudo depois que voltou às boas com Lula e o PT.
Neocolonialismo, neoliberalismo, Neocid (não sei se é tão eficaz contra insetos da Amazônia), “neo som nerd” (não confundir com o inconfundível Nelson Ned, uma das melhores vozes de todos os tempos)…
Lembro-me do antológico Chico Anysio e seu bordão “Palavras são palavras nada mais que palavras!”, ditas pelo personagem Valfrido Canavieira.
Ou seja: tivemos aqui a Rio 92, em… ahn… 1992, tivemos governos que zelaram pela “sustentabilidade”, entre 2003 e 2016, e?
“Não podemos”, “não permitiremos”, “não aceitaremos”, e?
Que me perdoem os :progressistas”. Mas vejo tudo como uma “conversa para girafinha da Amazônia dormir” (os bois não pregam os olhos, com medo de virarem picanha).
E deixo algumas pergunta:
1) Em que região fica Serra Pelada (nome menos “preservacionista” impossível)?
2) Será que as enormes balsas, que serpenteiam os rios amazônicos, carregadas de trocos de árvores, são confundidas com cobras d’água?
3) Alguém da imprensa perguntará à sumida ministra Marina Silva o que foi feito entre 2003 e 2016?
4) E o que vem sendo feito agora?
Discurso não diz o curso.
Objetivamente, o que se pretende para antes de 2030?
Suponho que o mundo queira saber.
Ou não?