Há quem o considere o maior autor da língua portuguesa. Como não quero parecer bairrista nem radical, eu diria que Guimarães Rosa é um dos maiores, ao lado de Camões, Fernando Pessoa e Machado de Assis. Em sua homenagem, realiza-se de 17 a 20/11 a 1ª Literata – Festa Literária de Sete Lagoas, na Grande BH. Estarão presentes Moacyr Scliar, João Paulo Cuenca, Olavo Romano, Alice Ruiz, Arnaldo Antunes, Alcione Araújo, Nelson Cruz, Roger Mello, Wander Melo Miranda e Washington Novaes, entre outros convidados.
Rosa nasceu em Cordisburgo, que então pertencia a Sete Lagoas, e esse é o segundo motivo da justa homenagem. Como poucos, adotou uma forma narrativa própria e inimitável. Com olhar jornalístico e ouvidos atentos à prosódia mineira, abordou temas seculares, criou neologismos e resgatou palavras do português arcaico que estavam adormecidas. Não bastasse isso, sua escrita é musical, influenciada por autores clássicos de todas as épocas.
Tudo isso explica o fascínio que sua obra desperta em críticos e teóricos. Depois de Machado de Assis, Rosa é o escritor mais estudado nas universidades brasileiras e suas histórias – traduzidas em várias línguas – permitem as mais diferentes leituras. Embora tenha retratado o homem, a paisagem e a biodiversidade do cerrado mineiro, ele não se limitou a captar aspectos meramente regionais. Partiu da recriação desses fatores para narrar epopeias de cunho universal.
Leitores comuns e professores que trabalham a obra roseana em salas de aula devem procurar no texto não apenas as águas da superfície, onde se narra o enredo principal, mas também as correntes profundas, nas quais habitam senhas e símbolos de diferentes escolas filosóficas e esotéricas. O autor buscava um sentido oculto para tudo o que escrevia, fazendo da literatura um verdadeiro jogo. Além de poliglota e estudioso da palavra, era um aficionado em xadrez, enigmas e religiões.
Por essas e outras, os iniciados em sua obra são tentados a interpretar o texto sob a luz da Alquimia, da Astrologia, do Hinduismo, da Maçonaria, do Platonismo, do Taoísmo ou mesmo da Psicanálise. Isso faz de seu trabalho algo maior do que a literatura por excelência. O autor cresceu no sertão e em Belo Horizonte, morou no Rio de Janeiro, foi médico, militar e diplomata. Encantou-se para se fazer eterno ao terceiro dia de sua posse na Academia Brasileira de Letras.
Outro aspecto a ser notado é que, apesar da leitura aparentemente difícil, Rosa costurava suas narrativas com bom humor e senso crítico. Isso talvez explique o fato de ter se tornado um dos escritores nacionais mais adaptados para o cinema, por diretores como Carlos Alberto Prates, Roberto Santos, Nelson Pereira do Santos, Sandra Kogut e Pedro Bial, entre outros. Não bastasse isso, Grande Sertão: Veredas inspirou uma das melhores minisséries da televisão brasileira, numa excepcional adaptação de Walter Avancini.
Fã confesso de Luiz Gonzaga e da dupla Tonico e Tinoco, Rosa reproduziu trechos de canções populares em muitas de suas narrativas e também influencia o cancioneiro nacional. De Geraldo Vandré – autor da trilha do filme A Hora e a Vez de Augusto Matraga (de Roberto Santos) – a Tom Jobim, sua poética ecoa nos acordes de Chico Buarque (Assentamento), Milton Nascimento e Caetano Veloso (A Terceira Margem do Rio), Tavinho Moura e Ronaldo Bastos (Folia Sorriso de Nuvens), Sirlan e Paulo César Pinheiro (Cantiga de Beira D’Água) e Téo Azevedo (Veredas do Grande Sertão) – para citar apenas alguns compositores. A exemplo de Dante, Goethe e Pessoa, para ele a palavra era forma, fôrma e energia, uma força a transmitir ideias e a despertar o inconsciente do leitor.
Serviço
A 1ª Literata – Festa Literária de Sete Lagoas será realizada de 17 a 20 de novembro, no Centro Cultural Nhô-Quim Drummond. Trata-se de uma iniciativa da Iveco, Viabilizada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura com patrocínio da Petronas e apoio da prefeitura local e Unifemm. Com entrada franca, o evento terá mesas sobre vários temas, contação de histórias, exposição de fotos, feira de livros, oficinas de artes, shows e sessão comentada do filme Mutum, de Sandra Kogut.
Prezado Jorge Fernando,
desejo muito sucesso na Literata. Dizer que sou admirador do Guimarães Rosa é chover nas veredas do sertão. Sempre é preciso futucar a memória dos distraídos para que não esqueçam os pais dos versos e prosas. Empreendedorismo (palavra da moda) cultural é isso que você está fazendo. O mais é espuma de leite fervido e derramado.
Um grande abraço.
Hermínio Prates.
Caro Jorge Fernando
Desejo-lhe sucesso no evento literário de Sete Lagoas. A propósito de Guimarães Rosa, reli hoje, depois de alguns anos, o conto “Umas formas”, de Tutaméia (Terceiras estórias) e deparei com um personagem maçon, do qual sinceramente não me lembrava. Penso que esse personagem pode interessá-lo.
Um abraço, Luiz Otávio Savassi
Cheguei a pouco da Serra do Cipó, onde fui descansar e divulgar o meu último livro, o ‘SOB AS BRUMAS DA SERRA DO CIPÓ’. Abri seu e-mail e dei-me logo lendo coisas sobre o ‘Grande João’ em seu blog. Sou do sertão, tal e qual ele, e amo esse chão. Você foi muito feliz em fazer a ‘LITERATA’ em Sete Lagoas, nossa linda sertaneja. Estou pesaroso por não poder estar aí em razão dos compromissos que assumi. No próximo evento eu assino o ponto. Muito Sucesso, J.Cláuver.
Jorge,
Como amante de Rosa seu artigo me embrenhou nas paragens surpeendentes da vida e obra roseana, sempre atualizante.
A 1 ª LITERATA de Sete Lagoas, pela sua pujança organizacional reanimará o movimento dos Encontro Regionais das Artes Roseanas de SEte Lagoas que há cinco anos visa mostrar as obras de Rosa.
Grato e até breve
Jorge
Oi, Jorge!
Faço coro: belos texto e homenagem. Tomara que mais leitores de Rosa surjam; tomara que diversas leituras apareçam.
Sugiro, para próximas reflexões, que pensemos sobre Lobato e seu modo de escrever o Brasil.
Grande abraço!
Daniel
Jorge,
Belo projeto, bela homenagem. Tenho certeza que será um sucesso. Depois me conte.
Abraço,
Emilia