Jorge Fernando dos Santos

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Dunga e Maradona na hora da verdade

Futebol tem dessas coisas. Ou, como diria Noel Rosa, quem acha vive se perdendo. Brasil e Argentina saíram da Copa principalmente devido à arrogância dos seus respectivos técnicos. Dunga, que devia se chamar Zangado, passou quase todo o tempo brigando com a imprensa. Maradona, que ganha do nosso técnico em termos de carisma, ficou o tempo todo de salto alto, desfazendo dos adversários. Ambos provavelmente se esqueceram daquela máxima de que o futebol é uma caixinha de surpresas.

 

Vale notar, no entanto, uma diferença básica entre o estilo dos dois ex-craques do futebol. Enquanto Dunga saiu de campo de cabeça baixa, nitidamente decepcionado com o desempenho de seus atletas diante da Holanda, Dieguito fez questão de adentrar o tapete para abraçar e beijar seus rapazes num gesto de companheirismo e solidariedade frente à derrota para a Alemanha. Verdade seja dita, os jogadores brasileiros entregaram os pontos e saíram do sério na hora do vamos ver, enquanto os argentinos lutaram bravamente e sem perder a cabeça.

 

Essa diferença resulta principalmente do estilo e da postura de cada um dos dois técnicos. Esse tema, aliás, poderia até inspirar consultores empresariais que lecionam cursos de liderança para executivos de grandes organizações. Dunga, o irritadiço que guarda mágoa no congelador, acabou influenciando negativamente o comportamento de sua equipe.

 

O destempero dos nossos jogadores

 

Até mesmo o equilibrado “irmão” Robinho estava nitidamente nervoso, gritando palavrões na cara dos adversários e do juiz durante a partida decisiva. Enquanto isso, conhecidos pela agressividade em campo, os argentinos surpreenderam pelo comportamento esportivo, relativamente ameno. O jogo contra a poderosa Alemanha foi moderado, sem discussões desnecessárias ou cenas de violência e estupidez como a que resultou na merecida expulsão de Felipe Melo do nosso time, no dia anterior.

 

Curiosamente, em certo momento, o goleiro alemão fez uma defesa extraordinária, esmurrando a bola na pequena área como Júlio César tentou fazer no momento fatídico em que o mesmo Felipe desviou-a para a rede marcando gol contra. Diante da derrota iminente já no meio do segundo tempo, Dunga permaneceu paralisado e sequer mexeu no time com a lucidez que a situação exigia. Ele já havia cometido esse erro por não substituir Kaká antes de sua expulsão, na partida contra a Costa do Marfim.

 

Outro ponto importante a ser observado é que os jogadores brasileiros raramente se saem bem nas partidas em que trocam a camisa amarela pelo uniforme azul e branco. Parece mandinga ou superstição. Esse fato, inclusive, já poderia ter merecido um estudo sobre a influência subjetiva das cores na psique dos atletas em momentos de decisão.

 

Os efeitos do “cala boca, Galvão”

 

De qualquer forma, o “cala boca, Galvão” parece ter surtido efeito, já que o famoso locutor estava rouco durante a partida Brasil e Holanda. Ele certamente pressentia o perigo, pois sabia que aquele era de fato o nosso primeiro grande adversário na África do Sul. No final da disputa, diante do inegável fracasso da seleção brasileira, ficou se desculpando, dizendo que não devemos esquecer que isso é apenas futebol. Vale lembrar que a Rede Globo e boa parte da imprensa alimentaram a ilusão da torcida sem fazer as devidas críticas ao desempenho medíocre de nossos atletas diante de times inexpressivos, que não têm tradição futebolística.

 

O suposto desentendimento de Dunga com a direção da CBF, no episódio Fátima Bernardes, já atestava a falta de entrosamento e harmonia no comando da seleção. A convocação de alguns jogadores que parecem ser meros produtos de marketing apontava para os riscos de uma derrota decepcionante, o que de certa forma demorou a acontecer. Um time, por melhor que seja, sempre corre o risco de ser derrotado. No entanto, o Brasil jogou pouco e não conseguiu reagir à ação da “laranja mecânica” holandesa, única de suas adversárias que estava à altura do seu futebol.

 

No circo armado pela mídia e pelos patrocinadores da Copa, novamente a seleção brasileira se destacou mais nos bastidores do que propriamente nos jogos que realizou. Fizemos uma campanha abaixo do nosso dever de pentacampeões do mundo e só mesmo quem não entende nada de futebol poderia supor que chegaríamos à grande final com uma equipe tão acanhada.

 

A Globo, que dourou a pílula até o último minuto, ainda teve a indelicadeza de azarar os argentinos ao mostrar a reação de Maradona diante dos gols da multirracial seleção alemã ao som de um clássico do tango, logo após a partida. Deviam ter levado a sério as óbvias palavras do Galvão: isso é apenas futebol. Será mesmo?

 

7 comentários em “Dunga e Maradona na hora da verdade”

  1. Depois de tantos impropérios que já disse, Maradona virou um sujeito inimputável aqui na Argentina. Mas na Copa surpreendeu: dava alento aos jogadores, estimulou a união do time e se saiu bem nas coletivas. Mancusso e Enrique cuidavam da parte técnica, Maradona cuidava da emocional, quem diria. Eu sempre gostei do Dunga, mas nessa Copa ele me decepcionou: sempre carrancudo, nervoso demais. Durante o jogo, ficava dando murro no banco, coisa meio exagerada. Sobre as torcidas, estamos iguais: argentinos zombaram da derrota brasileira e vice-versa. Aqui, os apresentadores e locutores de TV também fizeram o que Galvão e cia. sabem fazer tão bem: gozar com a tragédia dos vizinhos. A diferença é que aqui a rivalidade é restrita ao futebol. abs!

  2. é isso aí, jorge, o dunga é outro anão dos orçamentos do brasil, país que se deixa levar pelos mais bisonhos líderes…depois da tamancada holandesa, vem aí o espetáculo das eleições democráticas…ugh.

  3. Vitória Regina Gonçalves Neves

    Salve, Jorge
    Achei muito oportuno você alternar comentários sobre o que se passava em campo nos jogos em que o Brasil participou e as informações simultâneas da TV Globo. Para quem se interessa por futebol de quatro em quatro anos, como eu, não dá pra saber se o Brasil vai bem ou vai mal acompanhando o noticiário. Juro que não dá. Mas como parece que o momento é muito emocional, como deve ser mesmo, pois é pra isso que futebol existe, todo mundo se ilude – eu e o resto da torcida, inclusive quem entende de futebol. Galvão interpreta seu papel de deixar a todos com a sensação de que a copa é questão de vida ou morte e quando vai tudo por água abaixo diz que aquilo é “apenas futebol”. Se for, ele ganha muito pra fazer só aquilo.
    Abraço
    Vitória

  4. Mermão, eu não entendo nada de futebol. mas me lembro do filipão e do que a imprensa disse dele no comando da canarinha. se tivesse perdido a copa, seria um dunguinha e o romário seria o superman. ganhou, é um herói e o romário foi caçar gambozinos no campanário das urtigas. dizer o que os outros devem fazer é fácil. difícil é nós fazermos igual. o episódio fátima bernardes, visto pela imprensa e pelos comentários de quem lá esteve (europeus), se houve arrogância não foi do dunga. joão saldanha foi demitido pelas estrelas dum general porque teve o peito de dizer ao fardado que quem mandava na seleção era ele. o milico mandava nos quartéis. é isso aí.
    Cunha de Leiradella

  5. Valeu Jorge,
    Gostei muito da crítica sobre a derrota do Brasil. Também concordo que a imaturidade do Dunga como técnico contaminou os jogadores da nova safra, que não souberam reagir na hora da pressão.
    E fico 100% de acordo quando fala da diferença entre Dunga e Maradona, no que diz respeito à forma que trata seus pupilos, mesmo sendo ambos arrogantes. Isso realmente faz toda a diferença.
    No mais, fiquei super satisfeito em ter te conhecido pessoalmente, e espero ter oportunidade de encontrá-lo novamente, em ocasião que possamos conversar mais.
    Um abraço, Max

  6. Daniel Valadares Macedo

    Olá, Jorge!

    Sem querer tirar o mérito dos laranjas, o Brasil perdeu para ele mesmo. No mais, Maradona é ex-craque. Dunga, ex-jogador. Espero que ex-técnico da Seleção também.
    Abraços, Daniel

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