Jorge Fernando dos Santos

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A intolerância tem mão-dupla

David de Michelângelo
David sofre censura nos EUA

No mundo onde hoje vivemos, o pensamento trafega por uma autoestrada de duas vias igualmente perigosas para a liberdade de expressão.

Se de um lado o comboio do “politicamente correto” ameaça esmagar a criatividade e o livre-pensar, de outro os pilotos do conservadorismo de direita simplesmente engavetam e atrasam o trânsito das ideias.

Recentemente, na Grã-Bretanha, a obra do escritor Roald Dahl foi atropelada em nome das minorias. De uma hora para outra, seus editores decidiram remover de seus livros o que consideram “conteúdo ofensivo”.

A obra-prima A fantástica fábrica de chocolate, por exemplo, foi extirpada de referências a gênero, aparência e peso dos personagens. A editora Puffin Books informou que a “atualização” visa melhor atender ao “público moderno”. Há rumores de que vão mexer também nos textos de Agatha Christie. Shakespeare que se cuide!

Curioso é que a “censura do bem” já vem sendo praticada no Brasil. É o caso do genial Monteiro Lobato, cuja obra está sendo reescrita por autores contratados. E sobrou até mesmo para o pai do Espiritismo, Allan Kardec, cujo Livro dos espíritos deverá ser expurgado de expressões “racistas”. Pelo andar da carruagem, não demoram a copidescar a Bíblia, o Corão e o Livro dos mortos

Enquanto isso, na cidade de Tallahassee, Flórida (EUA), uma professora foi forçada a pedir demissão da escola devido à exibição de uma imagem da escultura David, de Michelangelo, em sala de aula. Um dos pais que pediu sua cabeça considera a estátua pornográfica e, portanto, ofensiva aos alunos.

E assim caminha a humanidade… para o precipício da intolerância. Nunca antes na História fazer arte e literatura foi tão perigoso e subversivo ao olhar dos incautos e desinformados. Enquanto a esquerda quer reescrever a História sob um único prisma, sem contextualizar os fatos, a extrema direita visa simplesmente queimá-la na fogueira da ignorância.

 

 

 

 

13 comentários em “A intolerância tem mão-dupla”

  1. Este discurso está avançando muito rápido.
    Estão matando a literatura e com ela a história.
    Se apagamos o passado, como aprender com ele?
    Triste e pobre será o nosso futuro.

  2. meu caríssimo jorge,
    lá chegará o tempo em que te chamar meu caríssimo será censurado porque tem um acento agudo no í, e agudo levará o leitor e ter pensamentos pecabilíssimos! dai, que o melhor é começarmos logo a escrever rupestramente, uai!

  3. Fico contente em poder lê-lo novamente, de volta à peleja das palavras. O esforço por um mundo menos crivado por termos marcadamente agressivos, a meu ver, é importante. Essa é uma construção social da sensibilidade humana. No entanto, censurar obras de arte, transportando acriticamente para outra época a perspectiva atual, não me parece bom. Em acréscimo, os personagens atuais, se preconceituosos, serão construídos com temos politicamente corretos?
    Por outro lado, impedir jovens/leitores de conhecer valores diferentes daqueles do domínio familiar é impor o domínio familiar ao universo social.
    Essa discussão, necessária, expõe as cores desnuançadas de nosso tempo.

  4. Ando entojara com os mimimis de hoje! Naosei onde vai parar, mas sei que o nível de EMBURRECIMENTO já chegou a níveis estratosféricos! Tá puxado!!!

    1. Ei Jorge Fernando, sempre bom ler os seus textos criativos, críticos e informativos. Para onde “onde caminha a humanidade?”
      Como as próximas gerações saberão sobre as referências nas artes e literatura e sobre a própria história?

  5. Ótima reflexão. Por um lado, há de fato o que se considerar acerca, por exemplo, de discursos de ódio do passado, mas não é que se vê nas obras literárias, mas sim um retrato e reflexo do tempo em que foram escritas, podendo levar os leitores e alunos a um trabalho crítico e analítico do texto, sem censurar o que foi previamente escrito dentro do seu contexto histórico. Do mesmo modo, essa tendência ao conservadorismo extremo, mata o pensamento crítico, o acesso à arte, sua capacidade de mudar o mundo e levantar questionamentos, censurando sobretudo as obras contemporâneas, mas, até mesmo, aquelas obras que já estão aí, sendo clássicas a um basilhão de anos. Seguimos no meio do fogo cruzado, sendo professora então, isso se torna ainda mais difícil.

  6. absurdo atrás de absurdo. boas respostas estão sendo dadas a partir de boa literatura, como o recente livro de sérgio rodrigues, “a vida futura”, em que os espíritos e josé de alencar e de machado de assis vêm questionar o politicamente correto como a imbecibilidade da expressão “todes”;]

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