Dados divulgados na segunda-feira (12/9) pelo Ministério da Educação (MEC) apontam que somente 8% das escolas “tops” de ensino médio do Brasil são públicas. Do grupo considerado “escolas públicas” constam as não profissionalizantes, as que são ligadas a entidades de ensino superior ou aquelas que realizam exames para selecionar alunos.
O ENEM demonstrou que as escolas mineiras destacadas entre as dez melhores do país são dirigidas à elite. Além de três entidades particulares de ensino, dados do MEC apontam a presença do Colégio de Aplicação, que é ligado à Universidade Federal de Viçosa, em oitavo lugar.
As melhores escolas do país continuam localizadas nas regiões Sul e Sudeste, com destaque para aquelas que atendem à alta classe média. Tudo isso demonstra mais uma vez a péssima qualidade do ensino público brasileiro, que além de ruim não é nada democrático.
O país, diga-se de passagem, tem um dos piores sistemas de ensino do mundo, com índices de repetência e abandono escolar entre os mais elevados da América Latina. Isso foi demonstrado em 2010 pelo Relatório de Monitoramento de Educação para Todos, da Unesco. O estudo demonstrou que a qualidade da educação brasileira é muito baixa, principalmente no que tange ao ensino básico.
Segundo o relatório, embora tenha havido melhora entre 1999 e 2007, o índice de repetência no ensino fundamental do país é de 18,7%, ou seja, o mais elevado do continente e acima da média mundial, que é de 2,9%. Em torno de 13% dos estudantes brasileiros deixam a escola no primeiro ano do ensino básico.
Deficiência acadêmica
Por outro lado, para concorrer com as grandes potências, o Brasil terá que se esforçar ao máximo também para aumentar o percentual da população com formação acadêmica superior. O país está no último lugar num grupo de 36 países avaliados segundo o percentual de graduados na população de 25 a 64 anos. Em 2008, apenas 11% dos brasileiros nessa faixa etária tinha diploma universitário. O Chile, na mesma época, tinha 24% e a Rússia, 54%.
Apesar das promessas e dos discursos oficiais, as provas do ENEM e as recentes pesquisas sobre a educação brasileira comprovam o óbvio: estamos parados no tempo e na contramão da história. Basta ver a situação do ensino público estadual em Minas Gerais. Os professores estão em greve por melhores salários há mais de 90 dias, sem que o governo se sensibilize. Aqui, como em outros estados, há dinheiro para tudo, menos para a educação.
O salário dos professores de escolas públicas é uma vergonha, se comparado aos ganhos de políticos e autoridades constituídas. Mas não é só a questão salarial que abala o sistema de ensino. Há que se levar em conta a falta de investimentos na compra de livros, equipamentos e também no quesito segurança. Em muitos casos, as escolas ficam em áreas de risco social, sendo depredas ou funcionando como ponto de venda de drogas.
Quem tem o costume de visitar escolas públicas no país sabe que seria preciso muito esforço e vontade política para mudar o quadro caótico em que se encontram. Sem isso, no entanto, não teremos como vislumbrar um futuro melhor para os brasileiros.
Jogo de faz de conta
Os atuais governos investem em programas sociais, gastam muito em propaganda oficial e na infra-estrutura da Copa do Mundo, mas parecem ignorar completamente a importância do ensino de qualidade. Há todo um jogo de faz de conta no âmbito da educação.
A escola pública brasileira precisa ser repensada e reorganizada pelo próprio bem do Brasil. O sistema atual simplesmente não funciona. Não prepara crianças e jovens para o mundo atual e menos ainda para o futuro próximo.
A fonte de insegurança, violência e falta de perspectivas de vida está na ausência de investimentos no ensino público em todos os âmbitos. Trata-se do alicerce do conhecimento e da verdadeira cidadania em qualquer país civilizado. Sem isso, todo o resto estará irremediavelmente perdido.
* Artigo publicado no site Dom Total.