Pessoas ligadas às mídias tradicionais costumam dizer que a MPB já não é mais a mesma e que as novas gerações de músicos e compositores apresentam repertório abaixo da crítica. Para justificar a afirmativa, apontam como exemplo nomes de talento duvidoso, como Anita, sertanejos e funkeiros de sucesso, que se apropriaram do gosto das massas musicalmente malformadas.
Ledo engano dos incautos! Basta dar um raso mergulho abaixo da espuma midiática para descobrir novos talentos, herdeiros da nossa melhor tradição musical. Conhecidos apenas em suas respectivas bolhas de audiência, existem melodistas e letristas que em outros tempos fariam parte do catálogo de grandes gravadoras. Para encurtar a prosa, destaco o mineiro Raphael Vidigal, letrista de mão cheia com alguns trabalhos disponíveis nas redes.
Poeta, escritor e jornalista, hoje trabalhando na editoria de Cultura do jornal O Tempo, Raphael mostrou a que veio ao produzir e lançar em 2013 o álbum Waldir Silva em letra & música. Em parceria com André Figueiredo, ele cobriu de redondilhas várias composições do saudoso cavaquinista mineiro, cujo nome é sempre lembrado em rodas de choro aqui e em outras freguesias.
Pelo menos duas músicas de Waldir anteriormente conhecidas como instrumentais se destacam no disco arranjado pelo maestro Geraldo Vianna. Veludo (feita em homenagem ao acordeonista de mesmo nome que era parceiro de Waldir) ganhou registro definitivo na voz de Ladston Nascimento, enquanto Duas lágrimas foi lindamente interpretada por Lígia Jacques.
Variedade de gêneros
Quem já letrou ou tentou letrar melodias prontas e já gravadas em disco sabe que não é tarefa fácil. Há que se escutar incansavelmente a gravação, até que uma frase salte aos ouvidos sugerindo o tema a ser abordado em versos. No entanto, Raphael e André fazem a coisa parecer sopa e o resultado do esforço agrada logo de cara, na primeira audição.
O álbum em questão reúne choro, samba, mambo, valsa e outras bossas, nas vozes de Mauro Zokratto, Acir Antão, Natália Sandim, Pereira da Viola, Paulinho Pedra Azul, Violeta Lara, Luana Aires, Giselle Couto, Lucinha Bosco, Ana Cristina e Carla Villar, além dos já citados Ladston e Lígia. Entre os músicos, destacam-se Célio Balona, Zé Carlos do Cavaco, Dado Prates, Jairo de Lara, Luísa Mitre, Hélio Pereira, Lucas Telles e outros bambas.
Depois dessa empreitada, Raphael e André seguiram compondo juntos. Uma parceria recente da dupla que merece destaque é Ouvi Dolores, samba-canção feito em homenagem à mitológica Dolores Duran. Melodia e letra se casam perfeitamente, na interpretação correta de André e Luísa Doné, cantora de voz suave e original.
Raphael Vidigal é também parceiro de Ed Nasque, Ronaldo Ferreira, Luísa Doné, Mauro Zokratto e Marcos Frederico, com quem fez o samba-choro Porto-poema, disponível nas redes: “Apanhei céu e mar / Pus no bolso um olhar / Te guardei sem chorar / E saí de veneta (…)”. Sua verve de letrista bebe nas melhores fontes da MPB.
Parabéns Raphael, vc merece muito sucesso.
Ótima dica! Conhecer é preciso.
Muito merecido todos os elogios feitos a vocês Raphael,sempre apreciei o seu trabalho como letrista e outros mais.
Parabéns por tudo o que tem feito com frande primor e eficiência.
Nasceu para o que faz
tá errado, mas é o que mais se encontra pelaí. não importa a qualidade. importa, sim, e para mim infelizmente, a quantidade de seguidores.
Muito prazer, Raphael Vidigal. Vou atrás de seu trabalho entre bambas. Obrigado, Jorge, por me apresentar um craque.