Jorge Fernando dos Santos

Vem aí, o barraco dos economistas

Jorge Fernando dos Santos*

Depois do sucesso da Casa dos Artistas e do Big Brother Brasil, bem que a televisão brasileira poderia colocar no ar o Barraco dos Economistas. A idéia do novo programa consiste em hospedar num barracão, durante vários dias e sob a mira de câmeras implacáveis, alguns dos nossos economistas mais famosos. De preferência, aqueles que definem ou já definiram os rumos econômicos do país. Também seriam convidados alguns estrangeiros que se destacam no ramo. Afinal, se programas fúteis, protagonizados por pessoas desconhecidas, fazem tanto sucesso junto ao público, imaginem uma produção que discutisse assuntos relevantes, que interessam a todo mundo.
Entre os escolhidos para participar do novo campeão de audiência não poderiam faltar figuras do peso de Delfim Neto.
A produção também poderia convidar o ministro da Fazenda, Pedro Malan, o ex-ministro Maílson da Nóbrega e até o Rubens Ricúpero para a nova atração do horário nobre. Em matéria de televisão, este tem grande know-how, pois quando era ministro do Itamar protagonizou uma grande polêmica ao falar mais do que devia diante de uma câmera indiscreta.
Uma convidada especial que certamente não ficaria de fora do novo programa seria a Zélia Cardoso de Melo. Dizem até que o Chico Anysio pediu o divórcio porque se cansou da piada, mas isso não vem ao caso. O importante é que a ex-ministra da Fazenda de Collor poderia ensinar a outro convidado ilustre – o ex-ministro argentino, Domingo Cavallo – a técnica de confiscar a poupança do povo sem causar revolução ou ir parar na cadeia.
Outro convidado interessante seria o Pedro Parente (parente de quem, afinal de contas?), que daria bons exemplos de como consumir energia elétrica dentro dos limites determinados pelo Ministério do Apagão. Provavelmente ele passaria boa parte do tempo apagando as luzes e desligando aparelhos que os outros esqueceram ligados. Também não poderia faltar ao programa um legítimo representante do FMI, instituição que impõe regras econômicas a vários países, inclusive o nosso.
Mas o ponto alto da produção não seriam os convidados, e sim a sobrevivência dos mesmos com apenas um salário mínimo de cachê. Isso mesmo! Hospedados num barraco de morro montado exclusivamente para cenário do novo programa, os referidos PhDs não teriam direito a nenhuma ajuda de custo ou mordomia. PhD, no caso, passaria a significar de “por hora desempregado”, condição sob a qual vive uma considerável parcela da população brasileira.
Para aumentar a dose de adrenalina dos participantes, colocando-os literalmente No Limite, cada um teria direito a apenas um rolo de papel higiênico Tico-Tico por mês. O prato nobre domingueiro seria macarronada com sardinha, e sem direito a catchup. Como único lazer possível, poderiam escolher entre os programas do Gugu e do Faustão. Já nos dias de semana, em vez de caviar, teriam que se contentar com um prato de chuchu com quiabo e angu. Uma cachaça sem rótulo e de alambique clandestino substituiria o scotch antigo e aceito, que geralmente rega os coquetéis oficiais. O máximo de requinte permitido seria um copo de groselha no café da manhã.
Fica assim o nosso desafio para os produtores e programadores de TV. E não precisam nem consultar o Ibope para saber que o sucesso do Barraco dos Economistas está desde já assegurado. O Sílvio Santos deu provas disso no final do ano passado, ao convidar políticos para participar do Show do Milhão. Foi a primeira vez em muitos anos que eles tiveram audiência garantida.

* Crônica veiculada em abril de 2002 na revista Economia do Estado de Minas, no site da Agência Carta Maior e também pelo portal Uol.

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