Participei, no último fim de semana, do 4º Salão do Livro Vale do Aço, evento literário sediado em Ipatinga e Coronel Fabriciano (MG) sob a curadoria do jornalista e escritor Adriano Macedo. Com exposições, mesas-redondas, contações de história, apresentações teatrais e oficinas de arte e literatura, o salão homenageou a memória de Fernando Sabino, representado pelo filho Bernardo, sendo uma realização conjunta da Paralelo, AHPCE Eventos e Instituto Cultural Usiminas, empresa patrocinadora desde a primeira edição.
Lá também estiveram Branca Maria de Paula, Daniel Munduruku, Edmir Perrotti, Marilda Castanha, Nelson Cruz, Marcelo Xavier, Zélia Versiani, Ziraldo, Michele Iacocca, Aracy Alves Martins, Angela Leite de Souza, Neusa Sorrenti, Lino de Alberbaria e muitos outros. Convidados especiais, não puderam comparecer Afonso Romano de Sant’Anna e Bartolomeu Campos de Queirós, este por motivos de doença.
Eventos desse tipo funcionam como alternativa às bienais internacionais do livro, realizadas com muito dinheiro e grande repercussão no eixo Rio-São Paulo. Sem o apelo turístico que ajudou a alavancar os fóruns de literatura realizados em Parati e Ouro Preto, o Salão do Vale do Aço busca principalmente a participação de educadores e pedagogos da região, além do público infanto-juvenil. O principal objetivo é contribuir para a formação de leitores – grande desafio de educadores, autores e editores num país que ainda tem um dos piores índices de alfabetização da América Latina.
Além da oportunidade de divulgar seus livros sem necessariamente visar o sucesso comercial imediato, os escritores que há quatro anos comparecem ao salão abordam temas relacionados direta ou indiretamente às suas respectivas obras, mas fundamentalmente de interesse dos educadores presentes. Edmir Perrotti, por exemplo, comandou este ano o painel de abertura falando sobre “A importância da leitura no estímulo à descoberta do mundo e na formação da criança e do adolescente”. Temas como memória, descobertas, sentimentos e diferenças permearam outros debates, bem como a relação entre imagens e palavras no universo das letras.
Justamente por se tratar de um evento que ainda não tem o poder de marketing da Flip ou das bienais já consolidadas, é de se lamentar a pouca atenção dada pela mídia mineira ao Salão do Livro Vale do Aço. Realizado em vários locais, inclusive em cidades vizinhas de Ipatinga e Coronel Fabriciano, o evento busca justamente a descentralização do debate, na tentativa de levar a literatura a pessoas que nem sempre têm acesso a livros e escritores.
Trata-se, portanto, de iniciativa louvável, espécie de semente que germinou e cujo broto cresce a cada nova edição. Se isso não é suficientemente importante para motivar a pauta jornalística, fica explicado porque os jornais vêm perdendo leitores a cada dia. Com exceção do Hoje em Dia, representado pelo repórter Alécio Cunha, a imprensa belo-horizontina praticamente ignorou o evento.
Se os chamados homens de imprensa levassem em conta que alfabetização, literatura e hábito de leitura constituem o motor de interesse pela notícia impressa, provavelmente até mesmo a menor das feiras de livros realizada numa cidadezinha qualquer do interior mereceria notas e boa cobertura dos cadernos de cultura. Graças a isso e a outros fatores, a Feira do Livro de Porto Alegre resiste há mais de 50 anos, tendo se tornado uma das maiores do gênero na América Latina.
É preciso que a imprensa nacional se comprometa com iniciativas que visem promover a leitura e combater o analfabetismo no país. Sem isso, lamento informar, os jornais terão cada vez menos leitores e assinantes – e não adianta atribuir a culpa exclusivamente à internet! O diferencial da informação impressa é que ela pode documentar e analisar os fatos com a profundidade que eles merecem. No entanto, sem leitores qualificados isso se torna tardiamente inútil e desnecessário. Melhor, nesse caso, o tom espetacular da cobertura televisiva ou o noticiário virtual nem sempre consolidado. Jornais impressos? Só mesmo para forrarem gaiolas.
* Texto publicado no site www.observatoriodaimprensa.com.br, em 06/10/2009.
Jorge, o problema maior, a meu ver, está nos próprios diretores de jornais, que querem economizar e não mandam cobrir eventos como esse. É o tal “barato que sai caro”, como você bem explicou. Sem leitores formados pela leitura de livros, perdem leitores em seus jornais, mas eles não pensam assim.
Por falar em “leitores formados”, parabéns pela sua indicação lá no sindicato dos jornalistas, mas deixo aqui a crítica que venho fazendo ao longo dos anos: não basta apenas exigir o diploma para ser jornalista. É preciso fiscalizar essas faculdades que existem Brasil afora, jogando no mercado “profissionais” que não sabem nada de nada, não têm o hábito de ler, nem de redigir, não sei o que aprendem nesses locais. Sem fiscalizar essas pseudo-faculdades, não adianta nada exigir diploma para analfabetos.
Aquele abraço!
Caríssimo Jorge
É, de fato, importantíssimo divulgar encontros que incentivem a leitura. Um evento em Minas Gerais que atrai grandes nomes da literatura, como os que você mencionou, mereceria destaque de nossa grande imprensa.
Aproveito o ensejo para desejar-lhe sucesso à frente da Assessoria de Imprensa do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.
Desejo que sua energia, inteligência e garra, em consonância com a Casa que passa a servir, dignifiquem mais ainda os profissionais da imprensa do Estado de Minas Gerais.
Abraço fraterno.
Daniel