Numa época em que a música erudita tem pouco espaço na preferência do grande público, é no mínimo corajoso realizar um filme como Maestro, em cartaz há mais de um mês na Netflix. Trata-se do mais recente trabalho do ator americano Bradley Cooper, cuja atuação anterior foi no remake de Nasce uma estrela. Além da incrível interpretação, ele escreveu, dirigiu e coproduziu o longa, em associação com Martin Scorsese e Steven Spielberg.
Maestro narra a história de Leonard Bernstein (1918-1990), o renomado regente da Orquestra Filarmônica de Nova York. Em vez de se debruçar sobre a premiada carreira do grande músico, a cinebiografia narra detalhes de sua intimidade. Casado com a atriz Felicia Montealegre, Bernstein era bissexual e teve vários amantes ao longo da vida, entre eles o diretor musical Tom Cothran.
O filme tem linguagem visual inusitada, acompanhando a própria evolução do audiovisual. Começa em preto e branco, e muda para o colorido em diferentes tonalidades, conforme a época. Os formatos de tela e os filtros das imagens ajudam a situar a narrativa no tempo e no espaço. Os primeiros minutos parecem arrastados, mas a história ganha velocidade na medida em que avança no tempo.
Carreira premiada
As mudanças de cenário e os cortes temporais enriquecem consideravelmente o resultado final, colocando o espectador dentro da trama. A vida pública do personagem e o pano de fundo da narrativa têm pouco destaque, já que o roteiro priorizou os conflitos íntimos. O ponto alto está na atuação de Cooper e Carey Mulligan, como Felicia. Dois excelente atores em interpretações simplesmente arrebatadoras.
Bernstein e Felicia se conheceram em 1946, mas só se casaram cinco anos depois. Mais que marido e mulher, foram cúmplices na vida e no trabalho. Ela sabia que ele gostava de homens, mas isso não os impediu de terem três filhos e viverem uma vida familiar calcada na confiança e no apoio mútuo. Nos últimos anos, ele chegou a sair de casa para viver com Tom Cothran, mas retornou após ela ser diagnosticada com câncer.
Leonard Bernstein foi talvez o maior maestro da América. Além de extraordinário regente, foi autor de trilhas sonoras inesquecíveis, entre elas a do longa-metragem Sindicado de ladrões, que deu a Marlon Brando seu primeiro Oscar. Em colaboração com Stephen Sondheim, criou o icônico musical da Broadway Amor, sublime amor. Ao longo da carreira, colecionou vários prêmios, entre os quais sete Emmys, dois Tonys, 16 Grammys e uma indicação para o Oscar, em 1954.
Quem quiser saber mais sobre o Maestro, não o filme, mas o personagem, encontrará vários links na internet sobre Bernstein. Vale conferir algumas de suas entrevistas, além de extraordinárias regências, entre elas a da Quinta Sinfonia de Beethoven. Há inclusive um documentário que inclui depoimentos de alguns dos muitos maestros que ele ajudou a formar.
Vou ver com certeza
Não gostei do roteiro, e parei no meio do filme..esperava um filme bem mais musical.
Excelente critica, Jorge Fernando!
Também achei arrebatadora a interpretação dos dois atores, e gostei bastante do roteiro.
É um filme surpreendente, já que muitos assistem o filme para ver a carreira artística do maestro, o que, na verdade, fica em segundo plano.
Parabéns também ao Bradley Cooper, pela bela interpretação mas, principalmente, pela direção certeira e sensível.
Justiça feita a um grande maestro.
Junto com Karajan, dominou as boas discotecas eruditas.
Excelente dica. Obrigado!
Um ótimo artigo sobre o grande Maestro Bernstein , nos levará certamente a ver o filme.
Parabéns pelo artigo, Jorge!
obra-prima! só a cena da regência da sinfonia nº 2, de mahler na catedral de ely, na inglaterra, já vale a anuidade da netflix.
Excelente comentário.
Vi o filme, muito bom, deve concorrer ao Oscar, abraços