Até quando, meu Deus? Esta é a pergunta que todos fazemos quando nos deparamos com uma cena de violência. Em tempos de crises econômica e ecológica, vivemos principalmente uma crise de humanidade sem precedentes. Mesmo com os avanços tecnológicos alcançados ao longo dos séculos, espiritualmente o homem permanece nas cavernas da pré-história.
Na África e no Oriente Médio o ódio tribal entre povos de diferentes etnias parece aumentar a cada novo conflito. Nas repúblicas latino-americanas persistem as desigualdades sociais, enquanto o populismo – ora de direita ora supostamente de esquerda – ameaça a estabilidade democrática do continente.
Em vários pontos do Brasil, especialmente na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, trava-se uma guerra civil não declarada, na base do cada um por si e Deus por ninguém. Policiais civis X militares, milicianos X traficantes, CV X TC X PCC e o povo perdido entre balas perdidas. E o problema é que, por mais perdidas que estejam, as balas sempre encontram o corpo de um inocente que paga com a própria vida a omissão dos políticos.
Em países europeus, que se dizem civilizados ou do Primeiro Mundo, cresce a intolerância e o discurso fascista. A paranóia coletiva leva à prática de crimes que até Jack duvida. Basta ver o assassinato do mineiro Jean Chales pela polícia londrina ou a recente agressão à jovem cearense, supostamente praticada por militantes do partido de direita que integra o governo suíço. Até que a polícia de lá comprove a tese, soa absurda a acusação de que a vítima teria simulado o crime.
Curioso é que até mesmo as máquinas parecem assumir o controle da situação, como costuma ocorrer em filmes de ficção científica, talvez na tentativa silenciosa de levar seus criadores à guerra e ao autoextermínio. Na semana passada, dois satélites artificais – um russo e outro norte-americano – chocaram-se em plena órbita terrestre, espalhando destroços no espaço.
Agora vem a notícia de que submarinos nucleares – um britânico e outro francês – teriam trombado nas profundezas do Atlântico, sem que os respectivos sonares tivessem detectado a aproximação um do outro. A sorte é que eram barcos de nações aliadas. Caso contrário, o acidente sem maiores consequências poderia ter se transformado num incidente de sérias proporções.
Diante de tais acontecimentos, não fica difícil deduzir que todo esse quadro de violência e insegurança resulta da falta de respeito mútuo e da perda dos valores humanos. A sociedade pós-industrial globalizada representa o ápice do modelo capitalista, que agora ameaça desabar sobre os próprios criadores.
Não precisa ser místico ou profeta para perceber que as crises que enfrentamos – num momento quase apocalíptico – traduzem a falta de sentido da sociedade contemporânea, que substituiu o ser pelo ter, transformando os indivíduos em células de consumo e alienação. Quanto mais distante dos valores humanos preconizados pelo humanismo e pelo amor ao próximo, mais o homem se perde de si mesmo.
* Publicado no Diário do Comércio, em 21/2/2009.
Jorge, tenho lido seus textos com crescente interesse e entusiamo. Obrigada por me manter informada e compartilhá-los comigo. Abraços, Cristina Vieira
Jorge, sempre visito suas matérias e gosto de refletir sobre. Nem sempre concordo com tudo, mas as diferenças é que nos tornam, a cada dia, melhores.
Um abraço grande e na Vilma também.
Lourdinha Mourão