Sou do tempo em que o telefone tocava e a pessoa atendia. Melhor ainda, do tempo em que a campainha chamava e era um amigo ou familiar que chegava para filar a boia ou jogar conversa fora. As visitas vinham sem aviso. Por incrível que pareça, todo mundo era bem recebido e sempre havia um pouco d’água para se colocar no feijão.
Nos tempos de hoje, em pleno auge das redes sociais, ninguém é doido de chegar na casa de alguém sem antes marcar a data e o horário com a devida precisão. Em outras palavras, visita virou audiência ou uma espécie de consulta. E ai daquele se atrever a demorar. As pessoas sequer conversam ao telefone. Preferem trocar as irritantes mensagens faladas através do Zapp.
Outra coisa curiosa é que ninguém mais pede informações sobre o endereço onde pretende chegar. Basta colocar no Waze ou no Google Maps para encontrar o destino sem o risco de se perder no caminho. Parece que até os pombos correios estão usando esses aplicativos.
Atualmente, acompanhamos a polêmica em torno da chamada Inteligência Artificial. Da Alexa aos demais comandos de voz, a coisa está mais presente em nossas vidas do que imaginamos. O problema é se algum cientista maluco inventar a burrice artificial, não bastasse a nossa própria burrice de seres insensatos e egoístas.
Solidão virtual
Mesmo com milhares de amigos virtuais, nunca estivemos tão sozinhos. Apesar disso, recebemos toneladas de mensagens, a maioria desimportante. São piadas batidas e preconceituosas, fotos do cu do mundo, convites e propagandas que muita vezes a gente nem vê. Sem falar nos comentários políticos carregados de paranoia ou de ódio ideológico.
Quem frequenta bares e restaurantes já deve ter notado o quanto as pessoas (principalmente jovens) ficam ligadas no celular, sem olhar para o lado ou perceber o entorno. Muitos sequer interagem, preferindo teclar com quem está longe, ainda que seja um desconhecido. Isso quando não somos nós mesmos os viciados em consultar as redes e o noticiário a cada minuto.
Dia desses um cientista alertou sobre a possibilidade de as explosões solares afetarem a internet em todo o mundo. Segundo o especialista, corremos o risco de sofrer um apagão nas redes em 2024. Quanto mais isso durar, maiores serão os prejuízos na vida real, incluindo o controle de voos, a circulação de notícias e as operações das bolsas de valores.
Por mais que pareça sadismo, fico imaginando se isso for verdade. Mais que o caos, enfrentaremos um verdadeiro apocalipse now. O lado bom disso tudo é que certamente seremos forçados a acordar do sonho lisérgico no qual estamos mergulhados. Com a Matrix fora do ar, talvez voltemos à realidade do mundo analógico onde as visitas chegavam de surpresa, para filar a boia ou simplesmente jogar conversa fora.
É meu amigo, estamos em um momento, que a nossa geração nunca esperava ver. Vidas, como as nossas, irão desaparecer. Mas pode acontecer algo de inesperado, quem sabe um apagão possa fazer humanidade repensar…vamos esperar pra ver e lutando contra a corrente. Podemos fundar um movimento, eu animo, vamos fazer algo? Sociedade dos poetas vivos? Um clube, sei lá, qualquer coisa vale, estou a disposição de vcs para a resistência. Abraços
Jorge querido, infelizmente, todos (ou quase) estamos sofrendo dessa solidão em meio a essa maçaroca de informações truncadas em um mundo cada vez mais virtual. Tenho feito um movimento comigo que chamo de “me chama que eu vou!” E claro, comecei puxando o carro. O prazer dos encontros presenciais pra jogar conversa fora mesmo, tem me ressuscitado! Bora encontrar num boteco dia desses? Estou lendo o livro do meu querido Antônio Barreto (Barretowsky pros íntimos) sobre o Centro de BH, da série “BH, a cidade de cada um”, pela mesma que você escreveu aquele livro delicioso sobre o Caiçara. Barretowsky escolheu como tema, adivinha… o boteco, o santo boteco! Com tantos em BH, vamos escolher um ainda esse ano pra celebrarmos a vida e os encontros presenciais? Saudades de um bom papo com você, parceirinho! Beijo!
Ei!!! quero ir nesse encontro também tá, Ligia e Jorge!!! Tô em.Belorihills. 💋 beijos
Oi Jorge, lendo o texto eu entendi porque estou tão só. Se antes das redes sociais eu já era só, imagina hoje. Não sei lidar com essas coisas e tenho que pedir ajuda. Minha falta de interesse em aprender é maior quando vejo o abandono que a gente fica por causa disso. Que pena!
Que texto bom e em momento mais do que oportuno. Cada vez mais preocupante o afastamento e a solidão em estado plural das pessoas…
que o texto é bom, não preciso nem dizer, e que foca um assunto importantíssimo dos nossos dias, seria redundância. tomara que o apagão venha em 2024. os aviões já voavam antes, as bolsas de valores já operavam antes, e a gente, ô trem bão, sô!, poderia sentar no boteco, e tomar um chope sem todo mundo tar conectado com não sei quem. é saudade de tempos idos não. é simplesmente querer olhar a cara das minhas amizades sem ter um trem me impedindo de lhes podes ver sequer os olhos. QUE VENHA O APAGÃO EM 2024, E LOGO NO DIA 1º!
Ótimo texto!!!
O grande desafio é a conciliação da “humanidade” de cada um, com o irreversível avanço tecnológico!!!
Muito bom, Jorge! Estamos, de verdade, perdendo nossos amigos para estas tecnologias. Também, nossos filhos e netos. Não contamos nossos casos porque não temos plateia. Não jogamos cartas porque não temos parceiros. O violão e o teclado são peças de decoração. Respondemos mensagens com uma carinha de positivo, sem ao menos lê-las. Abraço!
Caríssimo Jorge.
Dessa vez vou descordar de você. Posso estar errado? Naturalmente. Mas, como diziam os romanos, “iniciem-se os jogos!”. Penso que para muitas coisas, não há verdade absoluta. Nem verdade relativa. Como dizia o maior imbecil do planeta – depois do eleitor – “nunca na história desse país” as pessoas se conectaram, se comunicaram e se encontraram tanto. Acontece que esses comportamentos não estão sempre sendo registrados nas redes sociais e muitos de nós estamos construindo nossas análises e reflexões baseadas no que vemos nas redes sociais. Irônico, não? O mundo se tornou complexo. Mas é, com certeza, um lugar melhor para viver, conviver e ser feliz. Ainda que não tenhamos percebido ainda.
Jorgito, grande escritor:
Belo texto. Não sei você, mas receber carta perfumada dava um tesão do tamanho de um bonde.
Minha maior preocupação é com as nova geração criada condicionada à tanta tecnologia e sendo bombardeada com tanta dopamina artificial. Se as gerações anteriores, que cresceram numa vida sem tanto estímulo, está prisioneira, imagina a criançada que nunca aprendeu que tem outra opção…
Essa semana tive a experiência. Fui em uma clínica não tinha luz. Resultado não atenderam. Até questionei que poderia ser manuscrito, mas a atendente falou que o médico teria muito trabalho para depois passar o prontuário manuscrito para o computador. Sai de lá indignada a luz é mais importante do que o paciente. Quer dizer sem a informática ninguém trabalha mais.
Eu ainda sou essa pessoa que quer receber as visitas e jogar conversa fora. O problema é que realmente são poucos os que querem o mesmo. Ótimo texto! Totalmente real.
Vamos nos encontrar pra tomar café e jogar conversa fora. Bora!
Oi, Jorge Fernando, parabéns pelo belo e verdadeiro texto — SOZINHOS NA MATRIX–!
Penso igual a você. As redes sociais são faca de dois gumes!
Muito bom. Apropriado para o momento…
Oi Jorge, parabéns pelo texto. Excelente! Apropriado!
Saudade de um bom bate papo numa mesa de café.
TEXTO coaduna com a realidade atual nessa nossa dimensão. Entretanto, ainda espero a conversa telepática mais econômica e a possibilidade do Teletransporte num verão anormal como esses para outros climas mais amenos, incluindo uma jornada nas estrelas para ver se lá tem PAZ.
Belo texto…Esta modernidade é como um trator e tambem a juventude hoje…Com cara no celular,vejo pessoas esbarrar em poste,correr risco de atropelamento,muitos acidentes de transito…Sobre o apagão – a previsão dos cientistas não é de ignorar…contudo,nem por isso acho que acordaremos do sonho licérgico.Fosse assim a covid 19 nos concederia mais contrição, amor,união.O que ví foi medos separação,discriminação etc…
Do real para o virtual, do virtual para o artificial e “via de mão dupla”: do artificial para o oitrora real.
Com direito a todos os artifícios. Sem aspas.
Já estamos nas redes.
Temos a ilusão de que pescamos. Mas, na verdade, somos sistematicamente “pescados”.
Mesmo os “tubarões” (grandes influenciadores digitais), do nada, são reduzidos a “piabinhas”.
Por que isto acontece?
Porque as conexões artificiais são frágeis. E nada nada inteligentes.
Mas são vendidas como inteligentes.
Quem domina a linguagem virtual tem a ilusão de dominar o real.
Cogita-se o controle da mídia.
Da mídia?
Escreveu Tolstói: “Cante sua sldeia e cantará o mundo.”
Aldeia? A global?
Somos “vizinhos” de celebridades e personalidades.
Algum mora na vizinhança real?
Algum bate papo conosco no bar, no estádio, na praça, no trabalho, no templo religioso, no supermercado, no espetáculo cultural?
A solidão não é nada artificial. E, quanto mais solitários, mais “salvos” pelo nada nada real.
Inteligência artificial =:iusão real.
Venho acompanhando esse negócio de inteligência artificial desde a infância, quando li um livro de Arthur Clarke escrito na década de 50 já tratando de um futuro longe demais onde a inteligência artificial tomou o controle e os humanos viraram espectadores da própria vida. Mesmo estando envolvido nesse assunto até a raiz dos cabelos ando preferindo a Inteligência Natural.
Tenho saudade dos tempos de amigos sem formalidades. Somente ser amigos. A vida seria mais leve e mais feliz.
Vero, Jorginho. Pior é que nada substitui olhares e abraços trocados. E na rede todo mundo é peixe.
Belo texto meu amigo, hoje tudo vive em torno de um simples aparelho celular e as pessoas estão ficando cada vez mais virtuais. Lamentável o fato de tudo se afastar do mundo real, no qual as redes sociais hoje em dia tomam conta de boa parte do tempo das pessoas.