Jorge Fernando dos Santos

No país da ignomínia

Dizer que os políticos são corruptos seria injusto. Afinal, deve existir entre eles pelo menos meia dúzia que não se enquadre nessa classificação, o que já seria suficiente para negar a unanimidade do termo. No entanto, além de corruptos, a maioria deles deu agora para rir dos eleitores. E só não cospem na nossa cara porque raramente nos têm pela frente. Lembram que existimos apenas durante as eleições, quando precisam do nosso voto para legitimar a suruba a que chamam de democracia.
Além de tolos, somos cúmplices de tudo o que tem acontecido no país. Graças à força da mídia e à péssima qualidade da educação pública, fomos reduzidos à mera condição de espectadores do circo de horrores, anestesiados diante da ignomínia.
Não bastasse Lula-lá e os 40 que estão sendo julgados em instância superior devido ao escândalo do mensalão, Renan Calheiros conseguiu se manter no poder, apesar de todas as evidências que tinha contra si. E isso ocorreu graças à omissão dos petistas comandados pelo senador Mercadante, aquele que mercantiliza com os interesses nacionais em nome de uma falsa ideologia que só pode mesmo sobreviver num país de analfabetos e mistificadores políticos.
Fosse o Brasil um país sério, no qual a cidadania não se omitisse tanto diante do absurdo das circunstâncias, o espetáculo desse 12 de setembro teria sepultado a farsa republicana. República esta que, todo mundo sabe, surgiu de um golpe de estado orquestrado pelos donos do poder, usineiros e latifundiários que aderiram ao movimento republicano para derrubar o imperador que, um ano antes, havia encorajado a filha a assinar a Lei Áurea. Com o episódio Renan, parece emblemático que o primeiro presidente do Brasil tenha sido justamente um marechal alagoano.
É preciso encontrar um novo modelo político para o Brasil. Um modelo que nos permita maior autonomia enquanto cidadãos. Afinal, enquanto os políticos riem da nossa cara, o mundo se espanta com nossa imensurável passividade. Temos uma terra maravilhosa, praia, sol, samba e futebol. No entanto, incendiamos nossas matas, jogamos esgoto no mar, importamos funk dos Estados Unidos e exportamos nossos melhores craques para a Europa.
Tom Jobim, o maestro soberano, dizia durante a ditadura militar que a saída do Brasil era o Aeroporto do Galeão, que por ironia do destino acabou sendo rebatizado com o nome dele. Com a vergonhosa crise da aviação nacional até mesmo essa opção parece arriscada. A não ser, naturalmente, que consigamos penetrar como clandestinos no aerolula, que percorre os espaço aéreos internacionais como a Interprice da vergonha tupiniquim. Aí, sim, seria possível relaxar e gozar tanto quanto eles nos gozam.

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