Jorge Fernando dos Santos

Narrativas entrelaçadas

Em sua estreia como romancista, o poeta e compositor Valter Braga narra três histórias em uma só

Poeta e compositor premiado, Valter Braga estreia agora como romancista. Seu livro Daqui se veem as três torres sai da prensa sob a chancela do Clube de Autores. Trata-se de uma obra que tem tudo para agradar a leitores que gostam de histórias instigantes e bem contadas. O lançamento será neste sábado (26/7), ao meio-dia, no restaurante Esquina Santê (Rua Silvianópolis, 464, Santa Tereza).

Devo esclarecer que o autor em questão é meu amigo e parceiro musical de longa data. Portanto, convém ao leitor nos conceder o devido desconto. Contudo, mesmo sob suspeita, ouso afirmar que se trata de um excelente ficcionista, capaz de narrar histórias embaralhadas sem se perder ao longo de 34 capítulos e 242 páginas.

Sua linguagem seduz desde o primeiro parágrafo. Formado em Letras pela UFMG e revisor nas horas vagas, Valter sabe combinar palavras e manter o ritmo sem perder o foco ou se render a conjecturas dessas que poluem boa parte da literatura contemporânea. Sua intenção, pelo visto, é entreter os olhos e estimular a imaginação do leitor afeito às boas narrativas.

O romance se passa durante a Segunda Guerra Mundial e apresenta três histórias, uma delas narrada em primeira pessoa. Tudo começa durante uma tempestade, quando um raio explode uma das três torres da igreja de São Sebastião, padroeiro da fictícia Corrente dos Rios, cidade mineira inspirada em Sabinópolis, terra natal do escritor.

Três perspectivas

A cena cinematográfica poderia ser vista de dentro do Studebaker estacionado no platô, mas a paixão do casal a bordo não permite a menor distração. Floripes Pedroso é o delegado da cidade, homem atormentado por um passado obscuro e vários casos que parecem não ter solução. Casado com a sensual Dalila, caberá a ele investigar a misteriosa morte do fazendeiro Gervásio Ernesto.

Enquanto isso, depois de tentar a vida em São Paulo, o ex-barbeiro Irineu Ferreira retorna a Corrente dos Rios e revela-se um exímio trapaceador no jogo de cartas. Em terceiro plano, o ferrador de cavalos Jurandir Cambaúva, vulgo Jurandão, tenta desvendar as origens de uma língua estranha que insiste em falar mesmo sem saber o motivo.

O autor foi finalista do Prêmio Visa de Compositores Brasileiros no ano 2000, obtendo o quinto lugar com seu parceiro Renato Motha. Cinco anos depois, recebeu o prêmio de melhor letrista com Haicai baião, no Festival da Nova Música Brasileira, promovido pela TV Cultura de São Paulo. Teve músicas gravadas por Bob Tostes, Ivan Lins, Lígia Jacques, Kristoff Silva, Vagner Santo, Rita Silva e Graziela Cruz – todas disponíveis no Spotify.

Daqui se veem as três torres apresenta narrativas inusitadas, sobre a busca pela identidade, a importância das relações interpessoais e os desafios de se confrontar a verdade. Poeta experimentado, autor da coletânea Barragens & rejeitos (Quixote + DO, 2020), Valter Braga domina várias linguagens e se firma como romancista de incontestável talento.

9 comentários em “Narrativas entrelaçadas”

  1. Sérgio Fernandes

    Na expectativa pela leitura!
    Com certeza mais um excelente trabalho de Jorge Fernando!
    Sempre nos premiando com excelentes obras!

  2. VAGNER RODRIGUES SANTOS

    Ei Jorge Fernando, com essa sua narrativa, só aumentou a minha curiosidade. Escrito pelo Valter, só pode ser coisa boa!!

    1. Muito bem escolhida para aguçar a curiosidade do leitor a cena do Studbaker com um casal no alto da cidade. Quem não quer saber da continuação da cena ?! Todo sucesso ao Valter Braga na sua carreira literária!

  3. Promete.
    Sucesso ao “versador” experiente, que agora chega à prosa.
    Se Flaubert legou-nos narrativas inesquecíveis, em “Três Contos”, que as três narrativas seduzam-nos em um romance!

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