Jorge Fernando dos Santos

Lula errou ao falar sobre a guerra

Pelo menos 45.200 pessoas já morreram no conflito entre Rússia e Ucrânia

Mais uma vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perde a oportunidade de ficar calado. Nesse domingo (16/4), nos Emirados Árabes, ao comentar a invasão da Ucrânia, declarou que nem o presidente Putin nem o presidente Zelensky tomam a iniciativa de paz e acrescentou que “a Europa e os Estados Unidos terminam dando contribuição para a continuidade dessa guerra”.

Como era de se esperar, a Casa Branca não demorou a reagir. Segunda-feira à tarde, o porta-voz de Segurança Nacional americano, Jonh Kirby, acusou Lula de estar “reproduzindo propaganda russa e chinesa” e acrescentou que seus comentários foram “simplesmente equivocados”. Para o governo Biden, a postura do presidente brasileiro é “profundamente problemática”.

Mais cedo, o porta-voz para Assuntos Externos da União Europeia, Peter Stano, havia dito que a Rússia é a única responsável pela violência no Leste Europeu. Claro que Putin foi e continua sendo o principal culpado da guerra, muito embora os riscos de Zelensky se aliar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) tenha sido a gota d’água para a invasão. Os russos não gostariam de ter mísseis apontados para Moscou de tão perto de casa.

Contudo, a questão tem agravantes que fogem ao simplismo das ideias, mesmo que bem-intencionadas. Russos e ucranianos são povos irmãos, sendo que a Ucrânia foi praticamente fundada por Lênin para ser um penduricalho da antiga União Soviética. Há que se lembrar que milhões morreram de fome no país durante a ditadura de Stalin, por ordem do próprio ditador.

Neutralidade histórica

Tradicionalmente, o Brasil sempre adotou a neutralidade diante de conflitos internacionais. Logo que a guerra começou, o então presidente Jair Bolsonaro foi duramente criticado por visitar Putin, cumprindo uma agenda pré-definida. Sua viagem foi interpretada como apoio à invasão da Ucrânia. No entanto, seu governo aderiu à decisão do Conselho de Segurança da ONU em condenar a Rússia.

Bolsonaro, convém recordar, perdeu tempo e muitos votos ao dizer bobagens sobre temas dos quais nada entendia. Foi o caso das declarações a respeito da Covid-19 e sua leniência diante da pandemia que ceifou a vida de mais de 700 mil brasileiros. Tal comportamento motivou uma CPI que, pelo menos até agora, não deu em nada, funcionando muito mais como palco para a oposição.

É preciso deixar de lado o relativismo. Declarações impensadas de um presidente sobre assuntos sérios podem prejudicar o país. Talvez enebriado pela recepção que os chineses lhe deram em Pequim, Lula cutucou americanos e europeus com vara curta.

Embaixadores alertam que esse tipo de atitude pode afastar o Brasil da comunidade internacional e prejudicar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Lula devia deixar o tema da guerra por conta do Itamaraty. Até porque sua opinião sobre um conflito tão distante de nós pouco acrescenta à realidade dos fatos.

 

 

 

 

 

 

11 comentários em “Lula errou ao falar sobre a guerra”

  1. Jose Roberto de Alvarenga

    Ótimo artigo! Resume muito bem a questão.
    A União Soviética invadiu a Finlândia e ficou com uma parte do território invadido. Invadiu a Polônia e também incorporou uma parte do território invadido . A Ucrânia tinha interesse de entrar para o ” Bloco europeu “. A questão da Otam foi um dos pretextos usados pelo Putin.

  2. lula pisou feio na bola, e agora só resta ao itamaraty tapar o buraco aberto aberto pelo presidente. oxalá ainda o possa fazer a tempo, e tão importante quanto, fazer entender a lula que quem sabe, pensa o que diz, e quem não sabe, diz o que pensa.

  3. Perfeito!
    Como dizia Millôr Fernandes, “ A diferença entre a galinha e o político é que o
    político cacareja e não bota o ovo….”

    1. Márcia Procópio

      O problema da declaração do presidente Molusco não é o maior, o problema é ter sido eleito quando deveria estar na cadeia.

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