Jorge Fernando dos Santos

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Depois de sair do cinema, Eugênio se sentou num banco da praça, de frente para a fonte luminosa. Fazia calor e ele se pôs a contemplar a Lua e a dança das águas, curtindo a noite e se refrescando na brisa. Depois de alguns minutos, sacou o celular do bolso da calça e ligou para Stela.

– Oi – disse ela ao atender.
– Tudo bem, meu amor?
– Agarrada nos livros, como sempre. E você, onde está?
– Acabo de sair do cinema.
– Que filme foi ver?
– Uma comédia com Ricardo Darin, no Festival do Cinema Argentino.
– E esse filme por acaso tem nome?
– Relatos selvagens. Acho que você ia gostar.
– Sei… E que barulho é esse?
– Barulho? Deve ser a fonte luminosa.
– Fonte luminosa?
– É, eu estou sentado num banco da praça.
– Você deve pensar que eu sou idiota.
– Como assim?
– Vai ao motel com uma vagabunda e inventa que foi ao cinema?
– Que é isso, Stelinha?
– Stelinha é o cacete. Por que está me ligando da hidromassagem?
– Eu jamais ligaria da hidromassagem.
– Então, quando não liga, é porque está nela?
– Claro que não, meu amor. Olha o estresse!
– Como você é folgado, Eugênio! Me deixa em casa estudando, vai se divertir com uma vadia e não quer que eu fique estressada?
– Eu te convidei, mas você não quis ir ao cinema.
– Você não me engana mais.
– Mas eu nunca te enganei, Stela.
– Estou cansada, Eugênio. Perdi a confiança em você.
– Deixa disso, meu amor!
– Estou farta das suas traições, das suas mentiras. Não suporto mais.
– Não há motivos para tanto, você sabe.
– E aquela mulher que estava com você no carro, outro dia? Eu ouvi a voz dela pelo celular, já se esqueceu?
– Era o aplicativo do Google Maps, já expliquei. Para com esse ciúme patológico, pelo amor de Deus!
– Ciúme patológico?! Desde quando virou psicólogo?
– Tem horas que você me tira do sério.
– Quer saber? Você é que me tira do sério. Vai à merda!
Stela desligou. Eugênio resolveu provar a própria inocência. Viu uma jovem fazendo self, dirigiu-se a ela, estendeu-lhe o celular e pediu para filmá-lo ao lado da fonte, acenando com um sorriso. Em seguida, enviou o vídeo para Stela, que não demorou a ligar.
– Eugênio?
– Oi, meu bem, está mais calma agora?
– Pensa que eu sou retardada, não é? Quem fez essas imagens? Foi a vagabunda que você comeu no motel?
– Claro que não! Foi uma adolescente que estava aqui na praça.
– Ah, virou pedófilo agora.
– Deixa disso, meu amor!
– Por que não fez self como todo mundo? Me engana que eu gosto.
– Que é isso, meu bem? Eu sempre fui fiel a você.
– Pois essa é mais uma prova das suas mentiras.
– Como assim?
– Se fosse fiel, não daria tantas explicações.
– Pelo amor de Deus, Stela… Alô, Stela? Alô, alô…

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