Num mundo no qual todo mundo tem opinião sobre tudo, e onde ter opinião torna-se cada vez mais perigoso, declaro publicamente não ter opinião sobre nada. Àqueles que me condenarem por parecer uma metamorfose ambulante, direi apenas que esse é o espírito da nossa democracia.
Não direi, por exemplo, que a ausência de 15 governadores e do presidente da Câmara, Arthur Lira, ao ato político realizado ontem no Congresso foi uma prova de que o novo governo Lula não tem tanto apoio quanto o mandatário quis demonstrar.
Tampouco serei louco em afirmar que a tentativa de golpe do ano passado só foi possível devido à omissão das autoridades constituídas, que por diferentes motivos e total falta de razão ignoraram os alertas da ABIN – como se apostassem no “quanto pior melhor”.
Não direi que um juiz ameaçado de morte não deveria julgar aqueles que o ameaçaram, o que pode ser interpretado como vingança em vez de justiça. Também não ouso cobrar o nome dos mandantes, já que no Brasil eles são indizíveis (vide os casos PC Farias, Celso Daniel e Marielle Franco).
Público e notório
Sendo público e notório que o principal encorajador dos “atos golpistas” foi um certo ex-presidente derrotado nas urnas, não desafiarei os magistrados a mandar detê-lo para averiguações. Até porque, no Brasil, ex-presidentes raramente são presos e, quando são, têm os processos anulados e acabam reeleitos.
Tampouco ousarei pensar que o julgamento dos manifestantes de 8 de janeiro se arrasta há mais de um ano porque os magistrados que deveriam cuidar do assunto gastam tempo demais concedendo entrevistas, como se tentassem justificar a prisão dos suspeitos.
Não quero e não devo lembrar manifestações de esquerda ocorridas em Brasília, em 2014 e 2017, que resultaram em cenas de vandalismo iguais ou piores que as do ano passado – além de dezenas de feridos e nenhuma condenação por terrorismo.
Também não comentarei a declaração do presidente da República, ao justificar o motivo de não anistiar os tais golpistas. Alguém deveria lembrá-lo que se os ditadores militares pensassem como ele, muitos de seus companheiros teriam morrido na cadeia.
Finalmente, sem ter opinado sobre os últimos acontecimentos, peço a quem discordar que se manifeste no blog de forma educada. Afinal de contas, numa democracia que se pretende plena e verdadeira, todo mundo tem o direito de ter opinião – mesmo que não queira manifestá-la publicamente.
As autoridades constituídas no nosso Brasil falham sempre em proteger a justiça e aos cidadãos. Nossa justiça é questionável, a impunidade é um problema grave, onde muitas vezes somos incapazes (ou não queremos?) punir aqueles que realmente cometem o crime.
Ou seja, democracia imperfeita, capenga, e mal gerida!
Surdo, cego e mudo…
Ótimo na forma e nos conteúdos! Parabéns, Jorge!
Cheguei a escrever uma resposta a um dos outros comentários… Porém, mortes e sangues nos “eventos” com participações de petistas, são sempre acidentes ou invenções ou simples fatalidades. E, também, fazer vista grossa, para a mobilização de aloprados durante vários dias, sendo petista, faz parte do corriqueiro e inabalável “eu nun sabia, cumpanheru”.
Essa pulitizada turma é pior que os vândalos (quando oponentes). E a prevaricação só não acontecerá com os aloprados populares. Os verdadeiros responsáveis, brevemente, estarão como cumpanherus nos mesmos palanques lulistas.
ser ou não ser, mesmo que não pudesse ser uma questão, seria sempre uma opção. agora, ser e não ser, não tem como, amigo Jorge!
Tanto a direita quanto a esquerda tem um passivo de contas a prestar sobre violência e autoritarismo. Passamos perto de um golpe há pouco tempo. Não gosto nem de pensar em como estaríamos hoje se os golpistas tivessem tomado o poder.
Uma no cravo outra na ferradura… um texto que ironicamente trabalha com o morde e sopra, mas achar que atos da esquerda em 2014 foram até piores do que o oito de janeiro, aí passou da conta, compadre… um abraço.
do seu admirador, caio
Não direi li a crônica e, como de praxe, achei-a ótima.
Não direi também que os fatos sobre os quais o autor não opinou escancaram um “universo paralelo” sem paralelos na História do Brasil.
Afinal, trocou-se o “penso, logo existo”, pelo “pense (diferentemente de nós) e deixará de existir”. Pelo menos, na seara virtual. Até a presente data.
Era certo “líder” soviético que “editava” fotos, nas quais desafetos eram suprimidos?
Coisa de democracias, obviamente.
É isso ai Jorge. Não ouço, não falo, não vejo. O contrário adiantaria de quê?