O Congresso Nacional parece uma usina de escândalos, pois toda semana estoura uma bomba nos ouvidos do contribuinte. A imprensa cumpre o seu papel, mas os políticos fingem que nem é com eles. Depois da farra do cartão corporativo e da notícia de que a filha do senador Tião Viana, do PT, gastou R$ 14 mil com o celular do papai, durante uma viagem ao exterior, a notícia do momento é sobre o custeio de passagens aéreas de parentes e amigos de parlamentares com recursos da verba oficial.
A desfaçatez ultrapassa o discurso ideológico, pois até o impoluto Fernando Gabeira entrou na farra. Não bastasse isso, o presidente da Câmara, Michel Temer, tenta justificar o injustificável. Ele alega que a lei não proíbe tal comportamento dos parlamentares, ignorando, no entanto, que nem tudo que é legal deixa de ser imoral. Por outro lado, a lei é feita por eles e geralmente tem brechas justamente para que possam se safar em casos como esse.
O Brasil é um dos recordistas mundiais na cobrança de impostos. A diferença, em comparação com seus competidores, é a péssima qualidade dos serviços públicos prestados por aqui. A maior parte dos recursos arrecadados é usada para alimentar um Estado que mais parece um mamute em constante regime de engorda. Inoperância, corrupção e nepotismo parecem doenças incuráveis.
O Congresso Nacional abocanha grandes nacos da alfafa. Haja vista reportagem divulgada há algum tempo pelo programa Bom Dia Brasil, da Rede Globo de Televisão, e agora divulgada por e-mail. Na época – não sei precisar quando -, o Instituto Transparência Brasil demonstrou que cada senador brasileiro custava por ano R$ 33 milhões aos cofres públicos e um deputado federal não saía por menos de R$ 6,6 mil. Em média, cada parlamentar tupiniquim custava R$ 10,2 mil por ano.
Para se ter ideia do disparate, na mesma época um parlamentar italiano custava R$ 3,9 mil por ano e um argentino, R$ 1,3 mil. Os dados não estão atualizados e provavelmente houve aumento nas cifras, com as despesas do Brasil correndo na frente. E olha que o Congresso Nacional já esteve fechado por ordem dos militares, durante a ditadura, mas os nossos parlamentares só se lembram disso para se fazerem de vítimas, ignorando a insatisfação e as queixas do atual contribuinte. Muita gente há de pensar que se isso é democracia, melhor seria a “ditabranda”.
A conduta dos senadores e deputados federais causa o efeito cascata, servindo de exemplo para deputados estaduais e vereadores pelo País afora. Na época da reportagem mencionada, os 20 deputados distritais de Brasília consumiam, cada um, R$ 10 milhões por ano, enquanto nas assembléias legislativa do Rio de Janeiro e São Paulo esse valor chegava a R$ 5 milhões.
Se o povo brasileiro medisse a relação custo-benefício de um legislativo tão caro e inoperante, certamente sairia às ruas exigindo mudanças. O Brasil tem por hábito importar costumes, mas no âmbito político isso ainda é raro. Nossos parlamentares vivem melhor que a nobreza dos países ricos, alguns em castelos construídos com dinheiro público. Enquanto isso, o grosso da população permanece aquém dos padrões do Terceiro Mundo, sem moradia, segurança, emprego ou assistência médica de qualidade.
Jorge, seu artigo me fez lembrar de uma notícia que uuvi hoje de manhã na rádio Band News: os ingleses que ganham mais de 150 mil libras esterlinas anuais passam a pagar 50% de imposto de renda. É muito, mas pelo menos os trens de lá saem na hora e não têm “surfistas” no teto dos vagões. E ainda há um detalhe: os cidadãos só pagam uma libra para cada duas que ganharem A PARTIR do teto-limite, ou seja, apenas sobre o que passar das tais 150 mil libras anuais. Por aqui, quem ganha mais R$ 43 mil anuais para cima (o que equivale a pouco mais de 13 mil libras) para 27,5% de IR (“doa” ao governo mais de R$ 1 a cada 4 que ganha).´
Então, é o seguinte: se a gente for pensar em custo-benefício quando a goela larga do governo entra na história, vai é morrer de raiva, porque nossos excelentíssimos legisladores querem mais é… mais, sempre mais.
Só há um jeito de as coisas mudarem: educação. Mas educação de verdade, sem ideologismos ou doutrinações. O problema é conseguir que os excelentíssimos entrem nessa luta. Afinal, de bobos eles não têm nada.