Na semana passada, um grupo de escritores – alguns deles jornalistas – denominado Coletivo 21 enviou uma carta aberta à presidenta da Fundação Municipal de Cultura (FMC) de Belo Horizonte, Thaís Pimentel, solicitando a realização dos concursos nacionais de literatura Cidade de Belo Horizonte e João-de-Barro. Nenhum dos dois foi realizado em 2010 e os regulamentos para 2011 não haviam sido divulgados.
Procurada pelo jornal O Tempo, Thaís comunicou a decisão de acabar com o primeiro, mantendo apenas o segundo concurso. A decisão equivocada – só divulgada ao público após a mobilização dos autores do Coletivo 21 – teria sido tomada depois dos pareceres fornecidos por uma consultoria de “notório saber”, formada pelo escritor Humberto Werneck, o professor e editor da UFMG Wander Melo Miranda e o secretário de cultura de Porto Alegre, Sergius Gonzaga.
Alegar que a fórmula dos concursos literários está esgotada é uma maneira simplória de justificar a extinção do referido prêmio. Se a argumentação fosse válida, outras prefeituras, governos estaduais, universidades, academias de letras, editoras e empresas privadas – como a Telecom – não investiriam tanto na realização desse tipo de evento.
Além de promover a imagem das entidades que os realizam, os concursos literários funcionam como passaportes para os jovens escritores adentrarem o concorrido mercado editorial. Basta lembrar que o único escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel, José Saramago, consolidou a carreira literária depois de ganhar o Prêmio Cidade de Lisboa, em 1980, com o romance O Levantado do Chão.
Se o problema da Prefeitura de Belo Horizonte for falta de verba – e não de verbo –, há que se notar que um concurso literário vale o quanto pesa e não exatamente pelo peso financeiro da premiação. O que vale de fato é o significado do concurso literário em si, pelo que ele representa simbolicamente em termos de tradição cultural e indicador de qualidade estética.
O Prêmio Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte foi instituído em 1947, pelo Decreto nº 204/47, durante as comemorações do cinquentenário da capital mineira. De lá para cá, firmou-se como o mais antigo e tradicional concurso literário do Brasil, premiando e revelando poetas, contistas, romancistas, ensaístas e dramaturgos de várias partes do país.
Ao longo de seis décadas, o concurso reconheceu talentos como Autran Dourado, Antônio Barreto, Carlos Herculano Lopes, Duílio Gomes e Luís Giffoni, para citar apenas alguns entre as dezenas de nomes premiados. Mais que ser preservado, deveria – como querem os autores do Coletivo 21 e mais de 100 nomes que assinaram o documento enviado à FMC – ser tombado como patrimônio cultural e espiritual do Município de Belo Horizonte.
* Artigo replicado no jornal O Tempo e nos sites Aletria, Dom Total, Jornalistas de Minas, Observatório da Imprensa, Tirodeletra e Kplus
Parabéns pelo oportuníssimo artigo sobre o fim do Prêmio Nacional de Literatura da Cidade de Belo Horizonte. Acredito que seja necessário dar o máximo de repercussão a isso. O portal Dom Total, da Escola Superior Dom Helder Câmara pede autorização para republicar seu texto. Você a concede? Aguardo uma resposta urgente, se possível. Muito obrigado pela atenção e um grande abraço.
Marco Lacerda
Concordo com o Jorge Fernando.Gastar com cultura não é jogar dinheiro fora. É mais útil que pagar altos salários a vereadores para não fazer nada. Literalmente. – Guilherme Cardoso no jornal O Tempo.
Prezado Jorge
Inda há pouco, esbarrei com o anúncio, na Cult 158 (junho de 2011), do Prêmio SESC de Literatura.
Penso que tais decisões que atingem uma já instituição, como é o prêmio atingido pela faca, deveriam estar associadas a um debate em que a comunidade cultural pudesse se manifestar.
Entender direito os porquês ajuda a construir alternativas.
Abraços.
Daniel
Jorge,
a comissão de Notório Saber contar com o Sergius Gonzaga, secretário de cultura gaúcho é muito estranho. Connheço Sergius. Não há dúvida sobre o seu Notório Saber. Mas por que gaúcho dar opinião em Minas Gerais?
Será que aqui não haveria outro Notório Saber para dar um parecer? Talvez ferisse a unanimidade almejada para acabar com o prêmio. E seria o caso de perguntar ao Humberto e Wander a razão de seus pareceres.
Os burocratas são umas bestas, jorge. só eu ganhei o cidade de belo horizonte duas vezes e muito devo a esse concurso. e a ana cecíla cravalho, por exemplo, que também o ganhou duas vezes, me disse a mesma coisa. burocratas são umas bestas, pqp! mas, também, se não fossem, não seriam burocratas, seriam escritores, né não? – Cunha de Leiradella
Jorge,
É lamentável. Nesse país , quando querem economizar verba pública, sempre retiram da cultura. Esse prêmio, um dos mais importantes, é a bola da vez. Falta sensibilidade aos homens públicos. E sempre que querem dar cultura ao povo, quando dão, nivelam por baixo ou retiram/extinguem o que está dando certo.
O SLMG, tão tradicional e que revelou tanta gente boa, por exemplo, passou anos no ostracismo, agora parece que tomou vitamina, sendo dirigido pelo Jaime Prado Gouvêa. Que não morra também.
Veja tb que o caderno Pensar, do EM, não circula mais fora de BH. Aqui em Sp comprava todo sábado. Reclamei, me disseram que era corte de custos. MAS aposto que suplemento sobre futebol e música sertaNOJO, esses nunca vão parar de circular.
Abraços, RC