Jorge Fernando dos Santos

Em defesa da UFMG

Denúncias publicadas recentemente sobre irregularidades supostamente ocorridas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) devem ser investigadas e analisadas cuidadosamente. Afinal, não existem instituições à prova de corrupção e todo mundo sabe do esforço de certos setores para minar ainda mais o ensino público no país, com a clara intenção de privatizá-lo em sua totalidade. O ministério público deve ir fundo nas investigações e a imprensa deve manter o público informado, mas sem que isso comprometa a imagem da UFMG como uma das mais importantes instituições de ensino superior do país.

A carga contrária às instituições públicas de ensino é reforçada pela filosofia neoliberal que caracteriza a globalização, negando o papel do Estado como mediador das diferenças sociais. Claro que a UFMG não deve ser nenhum mar de rosas. Até porque, mesmo com toda sua importância reconhecida nacionalmente, ela enfrenta há muitos anos o descaso do governo federal, que tem rezado pela cartilha dos neoliberais, deixando setores de interesse público a descoberto, quase sucateados, o que sempre favoreceu a iniciativa privada.

No entanto, se existem coisas erradas nessa e em outras instituições públicas, que se apurem as responsabilidades com o rigor da lei. Negar a importância das universidades federais para o avanço da pesquisa e do conhecimento seria atentar contra o bom-senso e a própria soberania nacional. Mais que isso, seria abrir espaço para aqueles que vislumbram no ensino apenas o lucro material imediato, sem nenhum compromisso social ou com o futuro do país.

A péssima qualidade do ensino no Brasil é notória. No entanto, o mesmo setor da imprensa que agora aponta suas baterias contra a UFMG raramente se preocupou em denunciar o atentado de lesa-pátria praticado pelos governos, toda vez que deixam de investir em setores prioritários para a sociedade, como saúde, educação e segurança pública. A própria criação de cotas para minorias na universidade é uma tentativa tardia e demagógica de garantir igualdade de condições a estudantes de origem humilde, oriundos em sua maioria de escolas públicas de má qualidade.

O problema do ensino brasileiro está na base e a mídia raramente põe o dedo na ferida. A ironia é que a queda na venda de jornais está diretamente relacionada à péssima formação de leitores e de alguns daqueles que vão exercer a profissão de jornalista sem o devido preparo. Recente pesquisa sobre a qualidade do ensino básico na América Latina revelou que o Brasil se encontra no vergonhoso 18º lugar. Enquanto isso, proliferam faculdades particulares no país, que vendem facilidades àqueles que não conseguem passar nos vestibulares oficiais para conseguir o sonhado diploma. A concorrência é tamanha que, nos últimos tempos, o setor tem registrado altos índices de inadimplência.

Já se tornou folclórico o resultado de provas realizadas por alunos de certas instituições de ensino, que revelam total incapacidade e ignorância para exercerem a profissão na qual se formaram. Basta ver os índices de reprovação nos exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ou mesmo em concursos públicos para profissionais de medicina. Tivessem todas as profissões conselhos normativos organizados e atuantes certamente a qualidade dos profissionais que atuam no mercado de trabalho seria melhor, pelo menos com alguma garantia para aqueles que pagam por seus serviços.

Por essas e outras, não é de duvidar que o tom moralizante da campanha contra a UFMG e a Fundep possa esconder interesses mercantilistas. É preciso que os leitores aprendam a ler nas entrelinhas para não caírem na esparrela do julgamento apressado e na manipulação da opinião pública em favor do poder econômico. Uma instituição como a UFMG deve, sim, ter uma administração transparente e devidamente fiscalizada pela sociedade, mas que a defesa desses princípios jamais coloque em risco sua existência.

 

7 comentários em “Em defesa da UFMG”

  1. O que acontece com a UFMG é que a maioria de seus alunos são hedeiros culturais, que estão nas entranhas da familia de onde vieram, geralmente classes alta e média. Deixando a sub classe disposta a estudar a merce de instituições privadas de má qualidade, que tratam a educação como um negócio lucrativo. Mais com a globalização, “destruição do espaço pelo tempo”, esse tipos de atitudes sociais (corrupção, favorecimento e etc…) ainda existente nos dias de hoje, irão ser destruidas e exoneradas, com o passar de pouco tempo, porque as pessoas estão assumindos identidades pós-modernas, abandonando velhas identidades. Varios grupos sociais estão ainda criando resistência a mundanças, pois a educação é um negócio muito lucrativo, para grupos sociais tão homogênios que eles não desejam que a sub-classe adiquira o capitão cultural como diz a doutrina da ideologia jacobina. “Sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos”.
    NÓS DO MEIO EDUCACIONAL, QUE LUTAMOS PARA CHEGAR LÁ, SEM NENHUM TIPO DE FAVORECIMENTO, TEMOS QUE PREGAR PARA NOSSOS ALUNOS, QUE SUA CLASSE SOCIAL NÃO INFLUE NO SEU CAPITAL CULTURAL, E DAR-LHES ESPERANÇA QUE FUTURAMENTE ELE IRÁ OBTER CAPITAL ECONÔMICO COMO CONSEQÜÊNCIA DE CONTRUÇÃO SÓLIDA DO SEU CAPITAL CULTURAL, E UMA POSIÇÃO DA DESTAQUE SOCIAL, NÃO DEPENDENDO DE NOME, ANEL E BIGODE, MAS SIM DE SEU CONHECIMENTO E DEDICAÇÃO.

  2. Prezado, o seu artigo tem a virtude de buscar uma análise equilibrada tanto das denúncias do jornal quanto da defesa da Universidade. Porém, defender “imagem” é algo complicado: todos sabem que a universidade é palco de nepotismo (as vezes, até declarado) e malversação de recursos públicos. É função da imprensa (séria) realizar boas matérias investigativas, o que não foi o caso do jornal. Porém, a UFMG não pode se sustentar em “imagens” que não correspondem a realidade.

  3. Prezado Jorge,
    li seu artigo “Em defesa da UFMG” e também os comentários que seus amigos postaram em seu blog, e acho pertinente as suas colocações em alguns casos. Porém, há sim um outro lado dentro da Instituição, que como chama o jornalista responsável pelas denúncias que vem correndo nos jornais, de nepotismo e favorecimento de familiares e amigos. Há poucos dias tive o desprazer de presenciar um concurso público na Instituição que ficou escancarado este tipo de favorecimento. O professor Presidente da Banca + os outros integrantes desta mesma Banca, aprovaram nos 3 primeiros lugares, ex-alunos seus, ex-orientandos de amigos seus, entre outras coisas. Por isso, acho que de fato as denúncias do jornalista devem ter algum fundamento sim. E acho também que a UFMG, como várias outras instituições de ensino público, têm sim muitas fraudes e favorecimentos dentro de seu campus e que não devem ser preservadas de serem investigadas. Afinal, se é para ter este respeito há nível nacional e internacional que a UFMG tem alicerçado em fraudes e favorecimentos, que ele e o de qualquer outra instituição, venham abaixo. E te digo mais, pode ir preparando um outro artigo em defesa da idolatrada UFMG que vem coisa feia, em denúncias, por ai.
    Abraços e manteremos contato.

  4. Caro Jorge, como companheiros que fomos no EM/DT sabemos que a imprensa também não é um mar de rosas, sequer um poço de sabedoria. Hoje, do lado da UFMG como professor, posso dizer (também como chargista que fui 14 anos na imprensa brasileira) que nunca vi as Universidades Federais tão bem amparadas pelo Governo Federal. O projeto REUNI, por exemplo, deveria ser matéria (bem feita) de jornal. É um passo enorme em boa direção. Há muito trabalho de qualidade dentro da Universidade, seja pesquisa, ensino ou extensão. Infelizmente a “investigação” dos meios (pela metade) de comunicação, em termos gerais, não tem, nem de longe, o rigor científico e metodológico de um trabalho de pesquisa acadêmica. Sabemos e somos testemunhas de que a imprensa atua de forma “peculiar” no trato da informação. É triste, mas sabemos, do fundo das editorias, que é verdade. Ainda bem que hoje existe a web, um espaço de ação/comunicação em estrito senso. O pensamento crítico em rede realmente é mais democrático, eficiente e poderoso (no bom sentido da palavra). Abraços de um ex-jornalista e hoje professor (muito feliz em trabalhar na UFMG)
    Chico Marinho

  5. Muito pertinente a observação acerca do descaso sistemático da imprensa em geral com a educação básica gratuita.
    Esse tema grita por jornalistas especializados, por cuidado editorial em seu tratamento e por frequência mais assídua no noticiário. O mesmo se pode dizer, como o fez você, sobre saúde e segurança pública.

  6. Parabéns pelo artigo Jorge.
    Repassei pro Elias Santos, hoje professor da UFMG e coordenador da rádio da universidade e ele também adorou.
    Some não!

    Ribas

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