Como é público e notório, todo ano o Brasil despenca nas pesquisas internacionais sobre qualidade de ensino. Entra governo, sai governo, e a coisa só piora. Também pudera. A julgar pelo nível educacional dos nossos mandatários, não devemos esperar bons resultados. Se o exemplo vem de cima, melhor olhar para baixo.
Apesar dos cortes de recursos aplicados ao setor, o Brasil ainda gasta muito com educação. Mais até do que alguns países desenvolvidos. O problema é que geralmente gasta mal, haja vista a baixa remuneração dos professores, que fazem das tripas coração para exercer suas funções. Para piorar o quadro, tendências ideológicas se digladiam cada vez mais nas salas de aula.
Quem escreve livros, por exemplo, fica sob o fogo cruzado da esquerda identitária e o reacionarismo cristão da direita radical. Falo por experiência própria, pois tenho levado pau dos dois lados. Já tive livro criticado por militante do movimento negro por não ter “lugar de fala”, e também por mães conservadoras, por abordar temas incômodos algumas vezes.
Reação contra o Enem
Esta semana, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) reagiu contra o Enem, exigindo a anulação de questões que induzem os estudantes a odiar o setor, como sendo este responsável pelo desmatamento da Amazônia. Não se pode generalizar, atribuindo a todos a culpa de alguns. Há que se levar em conta que a produção de alimentos é prioritária para o mundo e que hoje o agronegócio tem um grande peso na balança comercial brasileira.
Enquanto isso, governos estaduais praticam censura e semeiam desinformação. Foi o caso do recente vexame da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, comandada por Renato Feder. A pasta substituiu os livros escolares por apostilas didáticas, contendo erros grosseiros. Entre eles, afirmações de que a cidade de São Paulo tem praias e que a Lei Áurea foi assinada por Dom Pedro II e não por sua filha, princesa Isabel.
Já nesta quinta-feira (9/11), circulou a notícia de que a Coordenadoria Regional de Educação de Florianópolis (SC) mandou recolher das bibliotecas escolares do Estado nove obras literárias, que deverão ser armazenadas em local não acessível a professores e alunos.
Entre os livros censurados estão O diário do diabo: Os segredos de Alfred Rosemberg, o maior intelectual do nazismo (de Robert Wittman e David Kinney), It: A coisa (de Stephen King) e o clássico Laranja mecânica (de Anthony Burgess). Pelo visto, os ovos das serpente vão pouco a pouco eclodindo no país. Dentro em pouco, além de proibir livros, estarão queimando escritores em praça pública.
Ótimo artigo! Sem uma educação básica de qualidade o futuro da maioria dos jovens e do país estará comprometida. E as disputas ideológicas só jogam uma cortina de fumaça na incompetência dos (i)responsáveis pelo setor. Como dizia Darcy Ribeiro: ” com o avanço do fundamentalismo cristão no Brasil, ainda irão matar em nome de Deus.”
Retrato fiel e cruel.
E palavras bem escolhidas.
Exemplo clássico: “gasta”, em vez de “investe”. O primeiro é despender, sem preocupação com o retorno. Ou seja: a realidade da “progressão automática. Aprendeu, ou não: passou.
Investir é alocar recursos, objetivando retorno. Pessoal, ou social.
O Brasil ensina, ou doutrina?
A rima é diametralmente oposta à solucão.
Quanto ao universo literário, Monteiro Lobato sofreu tentativa de “cancelamento”. Por alegado racismo.
Tema ao qual atual ministra tentou jogar o “buraco negro”.
E o ex-presidente foi acusado de semelhante racismo por, em “live” passada, beber leite.
Dúvida atroz, baseada no acima citado: alguma autoridade acusará a Via Láctea de ser racista?
O ensino brasileiro está sujeito a tais pérolas.
Brancas, ou negras. Para não ferir sensibilidades.
quem sabe esses três livros foram censurados pra que a crucificação encarnada, do henry miller, pudesse ser liberada? nunca saberemos onde começa e termina a burrice humana, amigão!
Lembro -me de ter visto filmes sci-fi que de alguma forma anteciparam tragédias mundiais. Que Fahrenheit 451, de Truffaut, não seja um deles…
Perfeita análise. Como sempre.
A educação não é prioridade há anos e anos no Brasil. Escolas e universidades públicas estão sendo engolidas pelas particulares. O Agro, ao invés de apoio, sofre repressão. A educação sofre desconsideração forte e os livros… Estamos bem.