O Senado Federal está brincando com fogo. Empenhados em defender interesses próprios e de seus partidos, os senadores da República fecham os ouvidos ao clamor das ruas e nos oferecem um espetáculo patético redundando na grosseria e na falta de decoro parlamentar.
A luta pela permanência de José Sarney na presidência da casa tem resultado em cenas lamentáveis, desgastando a instituição e podendo arrastá-la a um desastre com sérias consequências para o país. E o que mais incomoda no caso é a ação da chamada “tropa de choque” do PMDB, liderada pelo que há de mais sinistro na política brasileira. A atitude cínica de alguns parlamentares tem acirrado o debate entre alguns senadores, levando-os quase ao pugilato.
Esconder o lixo embaixo do tapete
Por sua vez, o presidente Lula apresenta um discurso dúbio e uma ação decididamente favorável a Sarney. Primeiro ele pede que a figura histórica do ex-presidente da República seja levada em conta e depois lava as mãos, afirmando que nunca votou nele e que seu drama político é problema do Senado. Na calada da noite, convoca seus aliados e manda que defendam o senador maranhense eleito pelo Amapá. O pior é que dessa sua manobra depende o quadro sucessório de 2010.
Diante disso, os petistas se veem divididos entre duas atitudes extremas: seguir as orientações do mandatário da nação ou salvar a imagem do PT, já tão desgastada frente à opinião pública. Esta, aliás, muitas vezes incorre no erro de acreditar que “no tempo dos militares é que era bom”. Pessoas simples e desinformadas, ou mesmo gente esclarecida que já se cansou da baixaria dos políticos, costumam confessar “saudades da ditadura”.
Como muitos já disseram, e é sempre bom repetir, o regime democrático é o pior e o melhor de todos. Afinal, se não fosse o estado de liberdade dificilmente seríamos informados sobre o que vem ocorrendo no Senado Federal. Por isso parece um absurdo alguém sugerir a suspensão das transmissões realizadas pela TV Senado, numa tentativa de esconder o lixo embaixo do tapete. Foi também o que ocorreu no STF, depois da briga entre os juízes Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa.
Para enriquecer o repertório de Suplicy
Em casos como esses, a mídia se torna a grande vilã. Embora muitos homens públicos tenham o hábito de exibir da tribuna denúncias da imprensa contra seus desafetos, a maioria acusa os jornalistas de tentarem apagar o fogo com gasolina. Ora, o papel da mídia é justamente fiscalizar os poderes públicos e trazer à tona vergonhosas maracutaias, como o mensalão e os atos secretos do Senado Federal. A reação contra isso parte justamente dos “filhotes da ditadura”, aqueles que apoiaram os ditadores ou foram forjados por eles. Querem uma imprensa submissa, sempre do seu lado, e nunca no campo oposto, a serviço do povo. Só lembram dos eleitores em épocas de eleições e usam o cargo público para defender interesses próprios. Por essas e outras, no Brasil a vida pública acaba sempre na privada.
O problema, no caso, parece ser com a própria sociedade brasileira que nunca se mostrou tão apática, desencantada e politicamente desmobilizada. Na verdade, o atual quadro político decorre de uma série de fatos, inclusive do esmagamento de lideranças legítimas durante o regime militar. No entanto, querer a volta do passado ou apenas anular o voto secretamente, sem fazer disso um protesto político, só piora a situação. Lembrando as paródias que marcaram época na história da MPB, ouso evocar Noel Rosa e sugerir um tema contemporâneo para enriquecer o repertório do senador Eduardo Suplicy, que tem nos brindado com canções americanas num inglês macarrônico, mas divertido.
Como diria Noel
(Paródia de “Onde está a honestidade?”, de Noel Rosa)
Armou-se um grande circo no Senado
Parlapatões são nossos senadores
Quem já foi aplaudido hoje é vaiado
Entre aliados têm só traidores
E o povo já pergunta nos seus lares:
Onde estão os militares, onde estão os militares? (BIS)
José Sarney se diz injustiçado
Renan Calheiros posa de inocente
Simon com o dedo em riste é obrigado
A engolir o Collor, boa gente!
E o povo já pergunta nos seus lares…
O Jereissatti acena pro Mão Santa
Virgílio escorrega, mas assume
Cristóvam que é Buarque só não canta
E o Suplicy exige mais volume
E o povo já pergunta nos seus lares…
O Lula quer mandar no picadeiro
A mídia denuncia, mas não basta
O circo pega fogo o tempo inteiro
E a grana entra e sai na mesma pasta
E o povo já pergunta em seus lares…
* Publicado no site www.observatoriodaimprensa.com.br, em 11/08/2009.
Pois é, Jorge, aquilo deu nisso! É um grande circo, onde todos ganham uma nota preta e a gente paga sem poder fazer nada.
Só espero que o refrão seja logo esquecido!
Porcaria por porcaria, prefiro a democracia!
Aquele abraço!
Ducaraças, sô… – Cunha de Leiradella.