Jorge Fernando dos Santos

Paródia política – Os riscos da crise no Senado

O Senado Federal está brincando com fogo. Empenhados em defender interesses próprios e de seus partidos, os senadores da República fecham os ouvidos ao clamor das ruas e nos oferecem um espetáculo patético redundando na grosseria e na falta de decoro parlamentar.

A luta pela permanência de José Sarney na presidência da casa tem resultado em cenas lamentáveis, desgastando a instituição e podendo arrastá-la a um desastre com sérias consequências para o país. E o que mais incomoda no caso é a ação da chamada “tropa de choque” do PMDB, liderada pelo que há de mais sinistro na política brasileira. A atitude cínica de alguns parlamentares tem acirrado o debate entre alguns senadores, levando-os quase ao pugilato.

Esconder o lixo embaixo do tapete

Por sua vez, o presidente Lula apresenta um discurso dúbio e uma ação decididamente favorável a Sarney. Primeiro ele pede que a figura histórica do ex-presidente da República seja levada em conta e depois lava as mãos, afirmando que nunca votou nele e que seu drama político é problema do Senado. Na calada da noite, convoca seus aliados e manda que defendam o senador maranhense eleito pelo Amapá. O pior é que dessa sua manobra depende o quadro sucessório de 2010.

Diante disso, os petistas se veem divididos entre duas atitudes extremas: seguir as orientações do mandatário da nação ou salvar a imagem do PT, já tão desgastada frente à opinião pública. Esta, aliás, muitas vezes incorre no erro de acreditar que “no tempo dos militares é que era bom”. Pessoas simples e desinformadas, ou mesmo gente esclarecida que já se cansou da baixaria dos políticos, costumam confessar “saudades da ditadura”.

Como muitos já disseram, e é sempre bom repetir, o regime democrático é o pior e o melhor de todos. Afinal, se não fosse o estado de liberdade dificilmente seríamos informados sobre o que vem ocorrendo no Senado Federal. Por isso parece um absurdo alguém sugerir a suspensão das transmissões realizadas pela TV Senado, numa tentativa de esconder o lixo embaixo do tapete. Foi também o que ocorreu no STF, depois da briga entre os juízes Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa.

Para enriquecer o repertório de Suplicy

Em casos como esses, a mídia se torna a grande vilã. Embora muitos homens públicos tenham o hábito de exibir da tribuna denúncias da imprensa contra seus desafetos, a maioria acusa os jornalistas de tentarem apagar o fogo com gasolina. Ora, o papel da mídia é justamente fiscalizar os poderes públicos e trazer à tona vergonhosas maracutaias, como o mensalão e os atos secretos do Senado Federal. A reação contra isso parte justamente dos “filhotes da ditadura”, aqueles que apoiaram os ditadores ou foram forjados por eles. Querem uma imprensa submissa, sempre do seu lado, e nunca no campo oposto, a serviço do povo. Só lembram dos eleitores em épocas de eleições e usam o cargo público para defender interesses próprios. Por essas e outras, no Brasil a vida pública acaba sempre na privada.

O problema, no caso, parece ser com a própria sociedade brasileira que nunca se mostrou tão apática, desencantada e politicamente desmobilizada. Na verdade, o atual quadro político decorre de uma série de fatos, inclusive do esmagamento de lideranças legítimas durante o regime militar. No entanto, querer a volta do passado ou apenas anular o voto secretamente, sem fazer disso um protesto político, só piora a situação. Lembrando as paródias que marcaram época na história da MPB, ouso evocar Noel Rosa e sugerir um tema contemporâneo para enriquecer o repertório do senador Eduardo Suplicy, que tem nos brindado com canções americanas num inglês macarrônico, mas divertido.

 

Como diria Noel

(Paródia de “Onde está a honestidade?”, de Noel Rosa)

 

Armou-se um grande circo no Senado

Parlapatões são nossos senadores

Quem já foi aplaudido hoje é vaiado

Entre aliados têm só traidores

 

  E o povo já pergunta nos seus lares:

  Onde estão os militares, onde estão os militares? (BIS)

 

José Sarney se diz injustiçado

Renan Calheiros posa de inocente

Simon com o dedo em riste é obrigado

A engolir o Collor, boa gente!

 

  E o povo já pergunta nos seus lares…

 

O Jereissatti acena pro Mão Santa

Virgílio escorrega, mas assume

Cristóvam que é Buarque só não canta

E o Suplicy exige mais volume 

 

   E o povo já pergunta nos seus lares…

 

O Lula quer mandar no picadeiro

A mídia denuncia, mas não basta

O circo pega fogo o tempo inteiro

E a grana entra e sai na mesma pasta

 

  E o povo já pergunta em seus lares…

 

* Publicado no site www.observatoriodaimprensa.com.br, em 11/08/2009. 

2 comentários em “Paródia política – Os riscos da crise no Senado”

  1. Pois é, Jorge, aquilo deu nisso! É um grande circo, onde todos ganham uma nota preta e a gente paga sem poder fazer nada.
    Só espero que o refrão seja logo esquecido!
    Porcaria por porcaria, prefiro a democracia!
    Aquele abraço!

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