
Nesses tempos em que o humor anda tão em baixa no país, a Globoplay exibe um excelente documentário em cinco capítulos sobre o maior humorista de todos os tempos. Com o perdão dos fãs de Chaplin, Tati, Jerry Lewis, Jô Soares, Golias, Oscarito e Grande Othelo, estou falando do genial Chico Anysio: O homem à procura de um personagem, dirigido por seu filho Bruno Mazzeo.
Criador de 456 personagens e intérprete de 209 – entre eles os inesquecíveis Professor Raimundo, Alberto Roberto, Seu Popó, Painho, Veio Zuza, Coalhada, Bozó, Salomé, Pantaleão e Haroldo -, Francisco Anísio de Oliveira Paula Filho (1931-2012) era cearense de Maranguape e se mudou para o Rio de Janeiro aos sete anos, com a mãe e três irmãos.
A mudança se deu depois que a empresa de ônibus do seu pai foi destruída por um incêndio. Contudo, a tragédia serviu de desculpa para que o velho coronel Francisco de Paula fosse morar com uma outra família, que havia constituído no Nordeste sem que a esposa legítima desconfiasse.
Desde cedo, Chico demonstrou talento histriônico. No final da adolescência, já trabalhava no rádio. O nome artístico surgiu muito depois e nunca tinha sido usado como apelido em âmbito familiar. Dando asas à vocação, ele se tornou não apenas um excepcional humorista, pioneiro do gênero stand up no país, mas também ator dramático, roteirista, escritor, produtor, locutor, dublador, apresentador, compositor, pintor e comentarista esportivo.
Aos 17 anos, Chico fez um teste de locução na Rádio Guanabara, ficando em segundo lugar. Perdeu a primeira colocação para ninguém menos que o futuro apresentador e empresário Silvio Santos. Venceu várias vezes as competições do programa Papel carbono, de Renato Murce, a ponto de se tornar our-concur. Chegou a escrever e atuar em chanchadas da Atlândida, ajudou a projetar a Rádio Mayrink Veiga, a TV Rio e a Rede Globo de Televisão.
Família de artistas
Irmão da atriz Lupi Zigliotti, do compositor Elano de Paula e do cineasta Zelito Viana, Chico Anysio foi casado seis vezes e teve oito filhos, entre eles o “afetivo” André Lucas, que se tornaria seu empresário nos últimos tempos. Seu casamento mais polêmico foi com a ex-ministra da Fazenda Zélia Cardoso, que hoje mora nos Estados Unidos. Como disse Juca Chaves, “foi o único caso na História em que o humorista se casou com a piada”.
No seu documentário, Bruno Mazzeo passa a limpo a vida do pai, contando sua trajetória desde a infância no sertão cearense até os últimos dias de vida, quando Chico lutava contra a depressão e o enfisema pulmonar. Aliás, seu único arrependimento era ter fumado a vida toda, motivo pelo qual se penitenciou pouco antes de morrer. Muitos dizem que ele era viciado também em cocaína, mas o programa não toca nesse assunto.
Com delicadeza e imparcialidade, Bruno ouviu dezenas de pessoas, a começar pelos irmãos, entre eles Lug (Seu Boneco), Nizo e André; o tio Zelito e os primos Marcos Palmeira e Cininha de Paula. Ouviu também sua mãe, Alcione Mazzeo, a própria Zélia Cardoso e a ex-frenética Regina Chaves, cujo filho com Chico Anysio morreu precocemente.
Outros depoentes fundamentais foram Daniel Filho, Boni, Fernanda Montenegro, Stepan Necerssian, Lúcio Mauro Filho, Castrinho, Galvão Bueno, Tom Cavalcanti, Cláudio Manoel, Renato Aragão, Ricardo Amaral, Cláudio Paiva, Cacá Diegues, Moacyr Franco, Ziraldo e Carlos Alberto de Nóbrega. Uma ausência notada é a da última esposa do humorista, Malba Di Paula.
Enfim, vale a dica. Trata-se de uma excelente produção, que não apenas resgata a obra e a memória do maior gênio do humor que o Brasil conheceu, como também um importante capítulo da história do showbiz, do rádio e da televisão no país, desde os anos 40.
tô com juca chaves, e não abro. único caso na história em que o humorista se casou com a piada.
O maior de todos, em todos os tempos!
E não refiro-me apenas ao Brasil e ao universo do humor: foi ator também!
Há que se lamentar apenas que sua última esposa, Malga, até hoje não tenha obtido o reconhecimento por parte dos filhos de Chico e esteja em meio a uma prolongada disputa judicial pela herança dele.
Onde quer que Chico esteja, tenho minhas dúvidas se já consegue descansar em paz.
Pena.
Talento e dedicação! Chico disse de si: “Não sou engraçado, engraçado é o Golias, sou ator.”
Oportuna coluna sobre esse gênio.
Excelente a sua síntese sobre o documentário a respeito do Chico Anysio e sua trajetória pelo mundo artístico brasileiro.
Faço das suas, as minhas palavras. Belo texto para um ótimo documentário que já vi e me encantei.
Disse certamente: Gênio.
Jorge é um grande escritor e jornalista. Tudo que faz tem excelência.
Estive oportunidade de conhecer o gênio Chico Anysio, em BH.
Uma boa prosa, na TV, cinema em tudo da cultura que ele fez ficou o legado de sua genialidade
Nossa ! Chico Anysio era tudo de bom! Ele em cena era a certeza de diversão de qualidade. Também , a família tinha a arte no sangue.
Ótimo artigo!
O comentário do Juca Chaves sobre o casamento com a Zélia Cardoso é genial!