Meu compadre Juventino é do tipo que dá um boi pra não entrar numa briga e uma boiada pra não sair. Sua última aventura foi parar até na Internet. Dia desses, vindo de uma pescaria lá pelos lados de Pirapora, no Norte de Minas, ele foi ultrapassado por uma BMW vermelha, que de tão veloz provocou um vácuo e sacudiu a lataria de sua implacável Variant.
“Esse sujeito tá mesmo com pressa”, ruminou consigo mesmo. “Vai tirar o pai da forca…”
Minutos depois, numa curva da estrada, lá estava a mesma BMW parada junto ao acostamento, com um pneu traseiro murcho. O motorista fez sinal, pedindo ajuda. Mineiro às antigas, Juventino piscou o farol e estacionou um pouco à frente.
– Boa tarde, tchê – disse o motorista da BMW ao se aproximar.
– Tarde – respondeu Juventino, saindo da Variant.
– Será que o amigo teria um macaco que pudesse me emprestar? – perguntou o sujeito alto e parrudo, de no máximo 40 anos.
– O senhor veio do Sul sem trazer um macaco? – admirou-se Juventino, ao ler o nome Pelotas na placa da BMW.
– Só percebi que o havia esquecido ao tentar trocar o pneu – explicou o gaúcho.
– Né problema não. Tenho aqui um dos bão – disse Juventino, abrindo o porta-mala da Variant.
Para encurtar a prosa, trocaram o pneu em poucos minutos. O gaúcho agradeceu, entrou na BMW, ligou o som bem alto e arrancou a toda velocidade.
Juventino guardou o macaco no porta-mala, limpou as mãos num pedaço de estopa e retomou seu caminho nos rumos de Belo Horizonte. Meia hora depois, resolveu parar num posto de gasolina na beira da estrada pra completar o tanque. Lá estava a mesma BMW, cujo motorista calibrava os pneus.
Ao se aproximar, talvez surpreso por reencontrar o gaúcho, Juventino se distraiu no freio e o pára-choque da Variant quebrou uma lanterna traseira da BMW. O gaúcho teve um sobressalto e o sangue lhe subiu à cabeça.
– Mas que droga, mineiro, olha o que fizeste com o meu carro!
– Foi por querer não. Eu me distraí e peço desculpas, amigo – disse Juventino, humildemente, sem sair da Variant.
– Amigo é o cacete… Tudo sabes o quanto me custou este carro? Teu calhambeque não vale uma roda de cromo dessa, ba!
Juventino se desculpou novamente e disse que aquilo não seria motivo para uma briga.
– Brigar? Eu vou é chamar a Política Rodoviária e fazer a ocorrência. Quero que me pague agora mesmo o prejuízo.
Sem perder a calma, que mineiro bom não se apavora, meu compadre buscou uma garrafa de cachaça no porta-luva da Variant.
– Ocê tá muito nervoso. Vai ver que anda bebendo muito chimarrão e isso não faz bem à saúde – comentou. – Bebe um trago dessa daqui pra se acalmar, que depois a gente conversa.
O gaúcho sentiu-se desconcertado com tanta gentileza do mineiro e acabou aceitando a oferta. Segurou a garrafa, bebeu um longo gole no bico e limpou a boca nas costas da mão.
– Aguardente da boa, tchê!
– É do alambique da fazenda onde eu tava pescando – disse Juventino. – Bebe mais um traguinho pra modo de relaxar direito.
O gaúcho tomou mais dois goles e devolveu a garrafa ao meu compadre.
– Obrigado, tchê!
– Não seja por isso – disse Juventino. – Agora ocê pode chamar os home da Polícia Rodoviária. Mas não se esqueça de dizer pra trazerem o tal bafômetro…
Oi, Jorge,
Vou adotadar a política do cumpadre Juventino. É bem menos estressante e dá melhores resultados.
Abraços,
Eliza Peixoto
Mineiro é mesmo esperto, calmo e matuto. Mexe com nós, não. Gostei.
Abraços.
Muito legal, Jorge! No fundo é sempre uma lição e tanto essa maneira bem-humorada e calma de retratar a nossa gente. Diante da falta de educação geral é um achado!
Abraços