Na madrugada de 7 de maio, em Curitiba, o deputado estadual Francisco Carli Filho, de 26 anos, dirigia um Passat com o qual passou feito uma guilhotina sobre um Honda Fit, matando na hora os dois ocupantes, de 20 e 26 anos. O choque atirou os dois carros na outra pista e um dos jovens foi decapitado. Testemunhas afirmam que o carro do deputado vinha em alta velocidade e chegou a “decolar” ao atravessar um desnível.
Trata-se de mais um crime que provavelmente ficará impune. Basta dizer que a polícia levou uma semana para pedir o exame de sangue ao deputado, que, segundo os nove bombeiros que atenderam a ocorrência, estava visivelmente alcoolizado.
O velocímetro do Passat estava congelado em 190 km/h. E olha que o assassino, filho de influente família paranaense, já tinha levado 30 multas de trânsito, a maioria por excesso de velocidade. Nos Estados Unidos, um crime como este poderia resultar em prisão perpétua.
Recentemente, o governo federal levou adiante uma campanha pelo desarmamento da população, recolhendo armas de fogo e tentando convencer as pessoas a votarem “sim” num plebiscito. Esse mesmo governo parece ignorar os dados estatísticos que revelam a violência do trânsito brasileiro.
Em nosso país, os carros funcionam como armas nas mãos de motoristas despreparados e irresponsáveis. Tanto isso é verdade que no auge do uso do bafômetro o número de acidentes caiu consideravelmente em vários Estados. Ou seja, quando a lei é levada a sério, os criminosos deixam de agir.
O fato é que a maioria dos brasileiros descarrega suas frustrações no automóvel, tendo por ele verdadeira paixão. É mais fácil o sujeito brigar no trânsito que numa torcida de futebol. Se você meche com a mulher alheia pode até ser tolerado, mas se esbarra no carro de outro, mesmo sem querer, pode até levar um tiro. É no trânsito que se conhece um povo e, pelo visto, temos muito que aprender com os países civilizados, onde a vida humana é de fato valorizada e protegida por leis rigorosas.
O trânsito brasileiro piora a cada dia, o estado das rodovias – sobretudo as federais – é lastimável e o perfil dos motoristas está longe de ser o ideal. Tudo isso porque as leis, embora existentes, raramente são cumpridas. O estado investe pouco no transporte coletivo e ainda mede o crescimento econômico pelo número de carros vendidos.
Jovens mimados fazem “pegas” à luz do dia e transformam seus veículos em verdadeiras boates ambulantes, com alto-falantes que ensurdecem a população sob as barbas da polícia. E cadê as leis do silêncio? Como é que um motorista cujo som está ligado “no talo” pode ouvir uma sirene ou buzina? Como fica o bem-estar da vizinhança?
No Brasil, as leis parecem ser feitas para justificar a existência dos poderes legislativo e judiciário. A maioria delas não serve para nada, pois raramente são cumpridas. Sobretudo aquelas que se referem ao trânsito.
Por essas e outras, pessoas de bom-senso devem ter mais medo de carros do que de armas de fogo. Afinal, as armas exigem perícia e são duramente fiscalizadas. Enquanto isso, qualquer maluco irresponsável pode comprar uma carta de motorista ou dirigir sem habilitação, na certeza da impunidade.
O automóvel é uma invenção maravilhosa que muito contribui para o nosso conforto, mas precisa ser encarado como coisa séria e não mais como brinquedo de gente grande.
* Publicado no Diário do Comércio, em 09/06/2009.
Olá amigo, quero saber de que forma podemos atuar para combater esta impunidade e conivencia da policia em se tratando de filhos de pais ricos e politicos, atualmente meu sogro foi vitima de atropelamento onde o autor estava em alta velocidade alem de jogá-lo longe ainda passou por cima fraturando as duas pernas, vi casos piores onde o infrator esta andando e dirigindo livremente pelas ruas sem o menor peso na conciencia, até quando?
Jorge:
Mais uma vez você tocou na ferida. Pena que as leis não funcionem por aqui. Abraços,
Cristina
Prezado Jorge, parabéns pelo artigo “Impunidade no trânsito”, muito bom!
é isso, jorge, há uma verdadeira guerra no trânsito, e, por incrível que pareça, um dos componentes é justamente o carro parado em lugar errado, diante da indiferença dos agentes responsáveis. experimente vir aqui na rua tupis, esquina com são paulo…não respeitam nem garagem. um abraço. caio