Jorge Fernando dos Santos

Consumo 10, educação Zero

Pesquisa realizada pela OIT e Unesco, sobre o quadro educacional em 40 países, revela que a situação do Brasil só não é pior do que a do Peru e Indonésia. No Nordeste, apenas 51% dos professores concluíram o curso superior. No Sul, apenas 72%. No Sudeste, 73%. No Centro-Oeste, 74%.

 

No Maranhão de José Sarney e na Bahia governada por Jaques Wagner, somente 40% dos profissionais do ensino têm formação acadêmica. O Brasil ocupa atualmente o 84º lugar num ranking de 187 países, atrás do Uruguai, Chile e Argentina. A Rússia, por sua vez, país emergente e populoso como o nosso, está na 66ª posição.

 

As informações não trazem nada de novo, pois nas últimas décadas pouco mudou na educação brasileira. Os baixos salários dos professores e a falta de qualidade do ensino continuam dando o tom no país que se vangloria de ser a 6ª economia do planeta e pensa resolver o problema educacional com as cotas universitárias.

 

O discurso oficial esconde o fato de que o governo brasileiro agrada às elites e relega a “coisa pública” – incluindo o ensino – ao último plano de suas prioridades. Afinal, um povo educado e esclarecido incomoda os poderosos, respeita as leis, resiste à corrupção e ao assistencialismo, como política de estado.

 

Ditames globais

 

Embora a degradação do ensino brasileiro tenha começado no regime militar, o atual quadro nacional obedece aos ditames da globalização. Desde que Bush-pai proclamou em alto e bom tom a “nova ordem mundial”, os investimentos em educação despencaram também em outros países. Afinal, o neoliberalismo e as grandes corporações querem consumidores e não cidadãos conscientes.

 

Da abertura dos portos na era Collor ao surgimento de uma nova classe média no governo Lula, o que se percebe é a crescente preocupação em afinar o interesse nacional pelo diapasão da economia internacional. O Japão fez algo parecido após a Segunda Guerra, mas, ao mesmo tempo, priorizou a educação e o ensino de qualidade.

 

O presidente-sociólogo Fernando Henrique Cardoso festejava o sucesso do Plano Real dando como exemplo o aumento na venda de papel higiênico, frango e eletrodomésticos, esquecendo a lição de que “um país se faz com homens e livros”. Pouco depois, Lula promoveu a inclusão das classes C e D no mercado consumidor, alardeando o aumento na venda de automóveis num país de péssimas estradas.

 

Claro que as pessoas necessitam de bens de consumo para ter conforto, alimento e diversão, mas a falta de investimentos em educação e cultura demonstra que os governantes estão comprometidos com os interesses capitalistas e não propriamente com os eleitores. Estes são iludidos pelo sistema consumista, que substitui o “ser” pelo “ter”, devasta a natureza e transforma tudo – inclusive pessoas – em coisas descartáveis.

 

Espelhos distorcidos

 

A ausência de novas lideranças e o próprio desinteresse pela política também são resultados da perversidade do sistema, que se alimenta da corrupção, permite a impunidade e tem a mídia como aliada na manipulação dos fatos. Pregam o “estado mínimo”, mas se socorrem dele para salvar a economia em tempos de crise.

 

Em vez de educação e cultura, temos entretenimento aos borbotões. Em vez de reflexão, o delírio das drogas ou os falsos milagres propagandeados por igrejas eletrônicas. Em vez do respeito às diferenças individuais e sociais, a superficialidade do “politicamente correto”.

 

Por essas e outras, o chique hoje não é ouvir música de qualidade, mas o ruído eletrônico, cujas letras lembram grunhidos de violência ou gemidos sensuais; não mais a crítica de um bom filme ou a leitura e discussão de uma obra literária, mas a polêmica nas redes sociais sobre as novelas e o Big Brother Brasil, espelhos distorcidos da realidade contemporânea.

 

Tudo passa pela educação e pela boa formação profissional. É público e notório que, em sua grande maioria, os estudantes brasileiros se formam sem saber ler, escrever e pensar corretamente. Os governantes fingem não saber do problema e tentam jogar a população contra os profissionais do ensino. Mas isso até que faz sentido, pois num mundo onde as pessoas valem o que consomem o futuro não existe.

 

* Publicado no site http://www.domtotal.com/ 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima