Repercutiu sobremaneira o oportuno artigo da professora da UFMG, Angela Carrato, publicado no Observatório da Imprensa, sobre o apoio de jornais mineiros à candidatura de Aécio Neves à presidência da República. Contudo, ouso dizer que o fantasma da censura e do apoio partidário não se faz presente apenas nos jornais, mas – infelizmente – também no meio sindical.
Vivi na pele um constrangimento semelhante ao do meu ex-colega João Paulo Cunha, que se demitiu do Estado de Minas ao ser impedido de publicar artigos contrários à orientação dos patrões. Selecionado para o cargo de assessor de comunicação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais em 2009, pedi demissão cinco meses depois devido à censura de uma reportagem no jornal Pauta.
O então presidente da entidade, Aloysio de Morais, havia sugerido matéria sobre a longevidade do programa “A Hora do Fazendeiro”, da Rádio Inconfidência, o mais antigo do país e talvez do mundo a ser transmitido ininterruptamente desde a inauguração da emissora oficial de Minas Gerais, em 1936. Reportagem feita e editada, uma diretora alegou que o tema favorecia o então governador Aécio.
Argumentei em favor da publicação, dizendo que a rádio estadual não pertencia ao governo e sim ao povo mineiro. Até porque, a matéria não apresentava conteúdo partidário e nem citava o governador. Pelo contrário, valorizava os profissionais entrevistados, que se dedicam com afinco à produção do referido programa.
Dias depois, Aloysio me comunicou que a diretoria do Sindicato havia decidido pelo empastelamento. O tom era o mesmo adotado nas redações de jornais. Somado ao fato de discordar do alinhamento sindical com partidos políticos, entreguei a ele o meu cargo. Posteriormente, a reportagem foi ampliada e publicada no OI. No final do ano passado, uma versão reduzida saiu no livro “Um gigante no ar”.
Barbas de molho
De colaborador a editor de cultura, suplementos e revistas, minha relação profissional com o Estado de Minas durou 25 anos. Demitido em 2008, reclamei na Justiça meus direitos trabalhistas, ganhei a causa e nunca mais pisei na redação. Mesmo leal à empresa, jamais deixei de criticar seu comprometimento com empresas, governos e/ou partidos políticos. Tentei fazer o mesmo no Sindicato, mas sequer fui ouvido.
Ao ler o artigo de Angela Carrato, imaginei o que teria acontecido se a situação fosse inversa. Isto é, se a imprensa mineira apoiasse os candidatos do PT, será que a demissão de alguém que discordasse da orientação dos patrões teria tido a mesma repercussão? Com todo respeito, penso que não. Lamento as demissões ocorridas no Estado de Minas não por razões ideológicas, mas pelos companheiros que se veem jogados num mercado de trabalho agonizante.
Recentemente, a jornalista e escritora Cora Rónai publicou no Facebook o seguinte relato: “Por causa do comentário que fiz sobre a Dilma, venho sendo xingada no Twitter, há dois dias, das piores coisas possíveis – não só em relação à minha aparência, mas também em relação à minha vida afetiva e profissional. Um blog chapa branca chegou a justificar o cyberbullying, dizendo que eu mereço esse tratamento…” Será que os sindicatos vão lhe prestar solidariedade?
Ao tomar posse, o novo ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, anunciou que o governo federal pretende propor a “regulação econômica da mídia”. A presidenta Dilma disse que isso “jamais poderá ser feito sem consultar a sociedade”. Ninguém discorda que o processo de concessões de emissoras precisa ser revisto o quanto antes, mas todo cuidado é pouco nessa hora. Segundo Berzoini, a sociedade será consultada por meio dos sindicatos e movimentos sociais. Não por acaso, a maioria ligada ao PT.
* Jornalista e escritor
Jorge, importante e corajosa reflexão.
Um abraço,
Eduardo.