Meu compadre Juventino detesta o Natal. Por isso, prefere viajar para bem longe nesta época do ano. Ele não aguenta mais ouvir o Jingles Bell e outras canções natalinas, como o clássico do ex-beatle John Lennon com tradução simultânea.
Pior ainda é a loucura do trânsito, o corre-corre de última hora daqueles que esperam pela segunda parcela do 13º salário para comprar os presentes.
Amigo oculto, então, nem pensar! Juventino defende a instituição do “inimigo assumido”, já que muitos daqueles que lhe dão tapinhas nas costas desejando boas festas escondem no punho uma faca afiada.
A rua onde mora raramente é varrida durante o ano. No entanto, em dezembro, surge um batalhão de garis em busca da caixinha de Natal. Nos sinais de trânsito, multidões de pedintes estendem-lhe caixas de sapato improvisadas em cofrinhos, evocando um trocado em nome do bom velhinho.
Sua mulher, imbuída do espírito de boa-vontade que acomete boa parte dos cristãos nesta época, lhe pede dinheiro para custear os garrafões de Chapinha que pretende dar aos rapazes da limpeza e aos entregadores de gás.
A campainha de sua casa não pára de tocar. É a paróquia do bairro pedindo doações para a creche, ao que ele se defende, dizendo-se frequentador da sinagoga mais próxima. Às testemunhas de Jeová, garante que não viu a briga e aos evangélicos declara-se frequentador do terreiro de Pai Joaquim.
Meu compadre é assim mesmo, impiedoso e avesso às obrigações sociais. É adepto da “tolerância zero” e fica irritado quando vê seu território ameaçado de invasão. Ele acha que o Natal é um grande negócio inventado pelos comerciantes e apropriado pela indústria.
Afinal, apesar do mau-humor que lhe é característico, procura tratar bem o próximo durante todo o ano, desinteressadamente, e não apenas no mês de dezembro.
Ele sempre recorda a cena bíblica em que Jesus açoita os vendilhões do templo e garante que Judas se matou por ter vendido barato as informações que o levariam à morte. “Se soubesse o que sabemos, Judas teria montado uma seita religiosa”, comenta com os amigos. “Ou talvez uma revista, cujo título sugestivo poderia ser Pequenas Igrejas, Grandes Negócios”.
Nada mal para alguém que sempre se declarou marxista e ateu, graças a Deus.
Só hoje comecei a acessar seu blog. Só hoje percebi o quanto perdi por não tê-lo feito antes. Só hoje estou me inteirando de seu extraordinário progresso como poeta, escritor, jornalista etc. Você sempre foi um profícuo criador da beleza oral e escrita. Muito aprendi com você quando de minha presença na saudosa Beagá e agora mais ainda. Já não dá mais para vivenciar tudo aquilo, frente à frente, mesmo recorrendo aos meios “internetianos”. Mas, fiquei meio consolado, após a leitura de “Meu compadre e o espírito natalino”, onde você se reinventou inteligente e espitirualmente. Sei que você é bem divulgado nas Minas Gerais e nacionalmente, mas o Brasil precisa conhecer mais um de seus extraordinários filhos. Parabéns, Jorge! Orgulho-me de você!
Deseje feliz Natal ao compadre Juventino, caso apareça. Sujeito porreta! Deliciosa a crônica.
Feliz Natal de novo para você.
giffoni
Parabens Juventino,
Você somente podia ter esse nome joven-com-tino.
Você deu-me o melhor presente do Natal Jovem, como você.
Sua juventude fez-me viajar até as favelas do mundo civilizado e correr com os moleques pelos vales , morros , cassebres, becos, botecos das pingas- torresmos.
Com você e eles passamos os Natais mais livres e libertinos da história e hoje , de novo, encontro você convidando-me para esse Natal no morro, na gruta do rei da foda para juntos engulir o sabor da luz fulgurante da aurora de todos os dias do Natal.
Grato, Juventino do Jorge Fernando.
Meu filho, feliz natal, com sinceridade. Viva o espírito de natal.
Então, é Natal! Texto prático das práticas. E elegante.
Ótima, a leitura dele.